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América Socialista

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OPINIÃO DE PAULO QUERIDO
Editorial

Esta não é uma Super Terça-Feira como as anteriores. Estas não são umas eleições primárias convencionais. Há uma mudança na política dos Estados Unidos da América, uma mudança grass roots — isto é, sentida de baixo para cima. A mudança é surpreendente, sob um certo ponto de vista. Mas surge como rigorosamente lógica, quando a analisamos a partir de outro ângulo de observação.

A mudança é esta: o eleitorado dos EUA, sobretudo o eleitorado do Partido Democrata, está a aderir ao socialismo. O país é historicamente avesso às ideias socialmente igualitárias, tema que tem apaixonado politólogos e sociólogos.

O eleitorado do Partido Democrata deverá hoje impulsionar fortemente Hillary Clinton para ser a sua candidata às eleições para a presidência dos Estados Unidos da América. Clinton é o sistema político americano até à medula; contudo, a sua provável vitória, na Super Terça Feira e mais para o fim do ano nas presidenciais, resulta de um processo eleitoral substancialmente diferente do habitual.

Os EUA libertaram-se dos complexos anti-socialistas, cuidadosamente cultivados ao longo de gerações por uma imprensa assumidamente capitalista. Em diversas sondagens nos estados que já foram a votos nas Primárias os resultados das pessoas que se declararam socialistas variam entre os 31% e os 40%.

Porque sucedeu o impensável? Um artigo de Harold Meyerson publicado no The Guardian, Why are there suddenly millions of socialists in America?, fornece uma boa explicação. E ela não se resume ao fenómeno Bernie Sanders. Pelo contrário, os indicadores agora disponíveis ajudam a explicar o sucesso de Sanders em cima dessa mudança já ocorrida, e não o contrário.

Em síntese: o socialismo era um palavrão, Sanders ajudou a remover o estigma mas foi o falhanço espetacular do capitalismo que mudou o pensamento de tantas pessoas, em especial entre o eleitorado jovem, branco e urbano, que vai em peso votar Bernie.