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Um debate importante e revelador

Um debate importante e revelador

O relatório “Uma década para Portugal”, documento inovador entregue ao Partido Socialista pelo grupo de trabalho coordenado pelo Prof. Mário Centeno, continua a suscitar um amplo debate, quer pelo reconhecimento da sua validade técnica e política por parte de economistas e analistas dos mais variados quadrantes, quer através da perceção implícita nas reações – previsíveis, aliás – defensivas, acossadas e reveladoras de alguma desorientação dos partidos políticos à direita e à esquerda do PS.
Cenário Macroeconómico em debate

É, sobretudo, um bom sinal. De que é possível fazer diferente e apresentar uma alternativa ao país, com rigor, credibilidade e sustentabilidade, que podem ser avaliados. E que o PS soube responder ao que dele esperavam os portugueses, devolvendo-lhes confiança, esperança e dignidade. Talvez por isso se compreenda melhor o incómodo e os sinais de desorientação, à esquerda e à direita.

Três textos cuja leitura se recomenda:

A direita. Parece que a direita pensava que o PS se iria fiar nas contas dessa direita que promete para 2019 o que em 2011 prometeu para 2015 e não fez. Assim, surpreendeu-se com o exercício do cenário macroeconómico encomendado pelo PS e desatou a disparatar. Parece estupidez tanta leviandade, mas, enfim, eles lá sabem.

A esquerda partidária. Infelizmente, uma certa esquerda não encontrou melhor maneira de tentar reagir ao Relatório dos Economistas do PS do que fazer coro com a direita, fazer coro com a tese central do “pensamento único”: ou se submetem ou saem da UE (ou, pelo menos, do euro). Esse é o argumento do governo de direita, porque será que o PCP e o Bloco vão pelo mesmo caminho? Já o PS não engole o pensamento único. Vamos ficar na Europa e no Euro e vamos acabar com a austeridade e o empobrecimento. Parece, aliás, necessário fazer um apelo aos outros partidos de esquerda para que encontrem uma linha de debate que não ressuscite a coligação negativa, com a “esquerda da esquerda” a fazer o mesmo discurso da direita.

A esquerda intelectual por trás da esquerda partidária. Tantos anos andaram a viver do estribilho “o PS é de direita” (esquecendo tudo o que o PS fez pela criação e consolidação do Estado Social em Portugal), que agora ficaram chocados com a evidência de que o PS é capaz de convocar a inteligência nacional para construir uma alternativa real, de esquerda, ao “estado a que isto chegou”, aquela forma de Estado nomeada por Salgueiro Maia na noite de 24 para 25 de Abril de 1974. Em verdade vos digo: a vossa cagufa é um temor eleitoral, percebo, mas não devia justificar tanto primarismo nos ataques ao PS.”

Porfírio Silva

Ler na íntegra aqui.

“Não por acaso, a direita e a extrema-esquerda já vieram a terreiro com a estafada linguagem do costume contestar a linha de orientação deste documento. É bom sinal. Só uma direita completamente dominada por uma visão tacanha e radicalmente austeritária pode encontrar nestas propostas qualquer tipo de semelhança com o extremismo irresponsável de partidos do tipo Syriza; só uma esquerda anacrónica e até mesmo alienada da realidade contemporânea pode descortinar no documento qualquer intenção de cedência a uma orientação desprovida de verdadeiras preocupações sociais.

António Costa já veio dizer que este texto não alimenta a presunção de se apresentar como uma espécie de “bíblia”, e, como tal, deve ser objeto de avaliação crítica e discussão aberta. O que importa contudo neste momento sublinhar é a linha de orientação que lhe subjaz e que me parece correta, ousada e muito criativa. Afinal de contas a socialdemocracia não está morta, nem tão pouco se encontra inerme perante os seus adversários. Dando prova de vida, como agora exemplarmente acabou de o fazer, expõe-se a críticas, ataques e incompreensões. É isso justamente que torna as democracias mais saudáveis e pode contribuir para a revalorização do fenómeno político. Como se pode ver não é preciso aderir a posições extremistas ou anuir a uma retórica de proclamação estéril para restituir sentido ao debate público. A moderação e o bom senso não são inimigos da imaginação e da coragem.”

Francisco Assis

Ler na íntegra aqui.

“Devo confessar que sou um pouco preconceituoso: estava intimamente à espera que a maioria cessante viesse dizer mal das propostas económicas apresentadas pelo PS. É um defeito meu não acreditar num mínimo de abertura de espírito daquela gente. Reconheço isso!

Em que posição é que eu ficaria se as propostas tivessem sido acolhidas como uma contribuição positiva e construtiva para o debate económico nacional? Qual seria a minha reação se os porta-vozes do poder de turno tivessem vindo a terreiro dizer que saudavam algumas das ideias agora propostas e, em especial, se se mostrassem dispostos a discuti-las e a encarar, à luz de uma serena abertura de espírito, uma revisão das suas próprias ideias? Nem quero pensar no que seria a minha cara de contumaz preconceituoso!

Felizmente, a maioria “arrasou”, em poucos minutos, as propostas do PS! Se eu ainda fosse mais preconceituoso do que já sou, diria que mal tiveram tempo para ler o que foi divulgado. E, se o cúmulo do preconceito fosse mesmo o meu maior defeito, era capaz de afirmar que, fosse qual fosse o conteúdo das propostas, a reação desta ex-maioria que está de saída seria basicamente a mesma.

É o que dá ser preconceituoso! Nunca mais aprendo!”

Francisco Seixas da Costa

Ler na íntegra aqui.