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“Sentimos que este Governo não quer saber dos portugueses”

“Sentimos que este Governo não quer saber dos portugueses”

O AS Digital saiu mais uma vez à rua para ouvir as portuguesas e os portugueses sobre o Estado da Nação. Diariamente publicará rostos deste país onde a austeridade deixou marcas profundas.
Entrevista de rua V

Carina Aleixo, jovem de 33 anos, residente em Vila Franca de Xira, viu-se obrigada a emigrar, juntamente com o seu marido e filha de seis anos. Infelizmente uma realidade comum a muitas famílias portuguesas que, pós a crise mundial e a adoção de políticas de extrema austeridade, se viram obrigadas, e por este Governo convidadas, a procurar outro rumo fora do país.

Esta jovem família encontrava-se numa situação de desemprego de longa duração. “Eu e o meu marido estávamos há 12 meses desempregados e o subsídio de emprego seria cortado dentro de quatro meses. O Carlos [marido de Carina] emigrou primeiro e assim que se empregou fui eu e a Laura [filha do casal]”, diz Carina.

Este casal português, que emigrou para Inglaterra no início de 2014, veio este mês a Portugal visitar a família. Ao “Acção Socialista” afirmou: “sentimos que este Governo não quer saber dos portugueses. A nossa prioridade era a Laura. Os nossos pais não tinham condições para nos ajudar com mais apoios e tivemos que tomar esta decisão”.

Carlos Aleixo afina pelo mesmo diapasão, adiantando “quando cheguei a Inglaterra não tinha emprego já garantido. Tratei do meu ‘Insurance Number’ que é uma espécie de Cartão de Cidadão, inscrevi-me nos centros de recrutamento e procurei um sítio para me alojar. O país recebeu-me muito bem. Tive direito ao ‘House Benefit’, um apoio financeiro para ajudar a pagar a renda da casa, assim como o acesso gratuito à Saúde”.

Passados três meses, Carina Aleixo e sua filha de seis anos deixaram o nosso país e emigraram também para Inglaterra. “Assim que o Carlos se estabilizou profissionalmente e o meu subsídio de desemprego terminou, emigrámos também. Lá inscrevemos a Laura na escola, eu tratei das minhas burocracias para começar a trabalhar. Hoje, para além dos nossos empregos, temos direito ao ‘Child Tax Credit’, que é um apoio às despesas da Laura, e ao ‘Child Benefit’, um apoio semelhante ao abono”.

A passar este mês de julho em Portugal para visitar a restante família, Carina desabafa: “Felizmente agora estamos bem, mas o que mais me entristece é que não foi uma opção de emigração, ou por crescimento de carreira ou aventura, foi o meu próprio país que me obrigou a sair para poder criar a minha filha e continua a obrigar os meus pais e sogros a sofrer por não acompanharem de perto o crescimento da única neta”.

À pergunta se António Costa é o líder que Portugal precisa, Carina Aleixo diz: “Nunca votei Partido Socialista, mas tenho acompanhado as notícias do meu país e não vejo nenhum candidato melhor preparado para agarrar e mudar Portugal”. Sublinha que será uma das emigrantes “a ajudar a deitar abaixo este governo de direita”.

Este é um dos mais de 500 mil rostos de portuguesas e portugueses que deste 2011 foram obrigados a sair do país para ter uma vida condigna. Segundo dados do Observatório da Emigração, desde 2011, emigraram mais de 97 mil portugueses para o Reino Unido, sendo o destino mais procurado para uma nova oportunidade.

Reportagem de João Pedro Baião