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Pensar adiante | Política

Pensar adiante | Política

Todos sabemos como a política é mais uma prática do que um pensamento. Ou seja, está mais perto da arte do que da filosofia. Mesmo assim, a política tem de pensar-se, sobretudo se quer intervir no médio e longo prazo para além da muito nevrótica e sempre carente conjuntura.
Pensar adiante | Política

Se o nosso tempo apresenta muitos problemas por resolver, fome, guerras, crise económica, crise do capitalismo, crise ambiental, o futuro anuncia alterações tão radicais que irão mudar não só a forma como vivemos como a própria ideia de sociedade tal como a conhecemos hoje.

A automação extensiva, aplicada à indústria, aos meios digitais ou à biotecnologia, está a revolucionar inúmeros domínios da atividade humana, permitindo uma produção mais eficaz e económica, um acesso à informação e ao conhecimento, como nunca existiu na história da humanidade, ou meios extraordinários de cura de doenças e prolongamento da vida humana. Mas estes desenvolvimentos têm reversos. As máquinas estão a substituir os trabalhadores, atirando para o desemprego e desocupação milhões de pessoas. Segundo as estimativas, os países desenvolvidos poderão atingir em poucas décadas taxas de desocupação perto dos 50%. Não há segurança social que comporte um tal valor. Por outro lado, a pequena parte da população realmente rica tenderá a enriquecer ainda mais, tendência que já se observa hoje. Mas com uma riqueza que não se medirá só em dinheiro, mas em capacidade de viver muito mais tempo, programar geneticamente a descendência, usufruir de recursos e meios dignos da ficção científica. O fosso entre a vasta multidão marginalizada e os muito ricos irá aumentar exponencialmente, ao ponto de se poder falar da emergência de uma nova e separada espécie humana. Aliás, os muros já se erguem por aí. Acresce que essa minoria, pelo menos num primeiro tempo, contará com máquinas e robôs para gerir os inevitáveis conflitos, fazer policiamento e conduzir guerras de extermínio. Os robôs militares são uma efetiva ameaça. De tal modo que há quem exija a sua proibição imediata. Stephen Hawking e outros mil cientistas e investigadores assinaram recentemente uma petição nesse sentido.

Pode parecer um filme, mas é para este cenário que estamos a caminhar. Velozmente.

Um dos maiores desafios da política do futuro será como manter a sociedade humana como um todo, tendencialmente igualitária, pelo menos nalguns princípios básicos como o são os diretos humanos, a democracia, ou seja, a participação cívica e política de todos, o acesso universal à saúde e educação. 

Só uma política informada e visionária pode encontrar soluções. Mais do que receitas de curto prazo, verdadeiros remendos temporários, precisamos de um novo tipo de organização social e política que impeça o progresso científico e tecnológico de resultar numa das muitas distopias anunciadas. Não se trata, à maneira dos luditas do início do século 19, de combater as máquinas e as tecnologias, mas de garantir que estas continuam a servir a evolução positiva da própria humanidade.

O primeiro passo, aquele que ainda não foi dado, reside em tomar consciência dos problemas futuros e de os debater politicamente enquanto é tempo. As soluções tratarão de aparecer. Porque o contrário é o pesadelo.