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Pensar adiante | liberdade

Pensar adiante | liberdade

Pensar adiante | liberdade

Mário Soares passou do campo da existência física para o da referência história. Teve uma vida bem vivida, produtiva e singular. Terá um futuro equivalente. Porque o grande motor da sua existência, das suas ações, coragem e visão, foi a liberdade. Essa condição banal para quem a tem, mas essencial para quem a perde ou a vê recusada por atavismo, perseguição ou preconceito.

 

A liberdade é uma ideia com e de futuro. Teve um momento bastante intenso em meados do século passado. A sua reivindicação globalizou-se com as lutas pela independência, enquanto nos países dos colonizadores assistimos a movimentos de libertação política e comportamental. Mário Soares foi particularmente ativo nesse ambiente. Pela cultura e sobretudo pela visão política única. Entendeu, antes de muitos, a importância da liberdade e da democracia para os povos e para o mundo. Bateu-se como ninguém por essa causa, dando um decisivo contributo para a libertação de Portugal e das suas colónias. Tornou-se referência mundial.

Mas se a liberdade foi o assunto da vida de Mário Soares, não o será menos no futuro. Porque ela está ameaçada de muitas formas. Desde logo pela natureza do capitalismo atual que assenta exclusivamente na acumulação de riqueza desvalorizando aspetos fundamentais da existência humana. Felicidade, bem-estar, coesão social, solidariedade, são valores em descrédito num sistema que privilegia a extrema riqueza de uns poucos, condenando todos os outros à mera subsistência. Sistema este que, na sua insaciável exploração dos recursos naturais, coloca mesmo em risco a espécie humana. Como afirmou o insuspeito Bill Gates o capitalismo, tal como ele existe, não conseguirá evitar o desastre ambiental que se advinha. Só o socialismo, que promove o bem comum, o pode fazer.

Por outro lado, a crise social e política tem originado movimentos extremistas que por sua vez conduzem a intoleráveis restrições da liberdade. Nos países desenvolvidos vivemos agora, em nome da segurança, em cidades ultra vigiadas, em estados tendencialmente policiais, enquanto o mundo menos desenvolvido é assolado por guerras e atentados quotidianos reduzindo a liberdade ao seu grau zero.

Do mesmo modo, a evolução tecnológica, extremamente benéfica em muitos aspetos, tem também o seu lado negro, apontando para cenários dignos da ficção científica numa previsível desocupação generalizada, robotização policial e militar e consequente submissão dos indivíduos.

Perdemos Mário Soares. Mas não podemos perder o seu legado. A luta pela liberdade continua.

 

Artista plástico