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Pensar adiante | Inteligência Artificial

Pensar adiante | Inteligência Artificial

É o maior desafio da humanidade. Existem outros importantes. No ambiente com o aquecimento global. No social com o crescente fosso entre ricos e pobres. Na demografia que tornou a espécie humana numa verdadeira praga que conduz ao extermínio de toda a restante vida natural.
Governo português empenhado em fortalecer relações com nova administração norte-americana

A Inteligência Artificial é contudo um desafio diferente. Criada por nós, e não pela natureza, conduz ao aparecimento de novos “seres” com capacidades similares ou, nalguns domínios, superiores às nossas. Ou seja, está a emergir no planeta Terra uma nova espécie. Artificial é certo, feita de metal e silício para já, mas que se irá tornando mais “biológica”, mais orgânica, como forma de superar alguns dos problemas atuais e evoluir rapidamente. 

Mas afinal o que é a Inteligência Artificial? Resumindo: é a inteligência própria exibida por algumas máquinas. Enquanto um berbequim é uma máquina estúpida, sem capacidade de reagir ao ambiente ou tomar qualquer decisão, um computador é uma máquina inteligente, na medida em que realiza, por si mesmo, muitas operações sem necessidade de comando externo. Um computador está constantemente atento ao que fazemos e vai dando o seu feedback. Um exemplo trivial: corrige os nossos erros ao escrever.

O aumento da inteligência torna-se substancial quando falamos de máquinas com alguma autonomia ou de robôs. O que se deve sobretudo aos sensores e capacidade de mobilidade. Os sensores, que podem ser de múltiplos tipos, visuais, auditivos, odoríficos, etc… permitem que a máquina ou o robô recolham informação por si e a processem sem qualquer assistência humana.

Se nalguns campos o artificial é inferior aos mecanismos naturais, por exemplo na falta de consciência dos seus próprios atos, na verdade noutros domínios o artificial é superior. Um robô pode ser dotado de uma perceção ambiental muito mais precisa do que a nossa. Vê e ouve melhor, vê e ouve para lá do nosso campo percetivo, visão de 360 graus por exemplo, vê no escuro, usa infravermelhos e ultrassons para detetar objetos, calcula distâncias com uma precisão milimétrica, etc.

Desde que em 1997 o computador Deep Blue venceu Garry Kasparov, o campeão de xadrez da altura, temos vindo a assistir a uma sucessão de “feitos” notáveis realizados por máquinas. Recentemente têm aparecido muitos robôs autónomos, robôs cirurgiões, robôs que interagem com os humanos, carros sem condutor ou a assistente Siri, uma entidade humanizada que vive no telemóvel, fala connosco, dá sugestões, informações e conselhos de toda a ordem.

Coloca-se então a questão de saber até que nível de inteligência é viável para estas máquinas? Igual ou superior à nossa? Os céticos tendem a afirmar que não é possível uma máquina “pensar” mais ou melhor do que o programador que a criou. Está demonstrado que não é assim. Porque a combinação de programas sofisticados, não-lineares, emergentes, etc… e sensores permite aprendizagem e decisões que não podem ser pré-programados. Aliás, eu próprio tenho essa experiência. Como os meus robôs pintores têm sensores e os usam como elemento fundamental no ato de pintar, não posso à partida saber o que eles vão “ver”. Não posso por isso predeterminar uma ação que não sei quando nem onde vai acontecer.

Existe também a magna questão da consciência. Pode uma máquina sem consciência ser realmente inteligente? Uma máquina que faz mas não sabe o que está a fazer pode desenvolver uma inteligência superior? Em princípio não pode, ainda que alguns autores afirmem o contrário, já que tudo depende do próprio conceito de inteligência. De qualquer modo a ciência mais avançada espera em breve conseguir dotar os robôs de alguma forma de consciência. 

Convém contudo esclarecer que a inteligência e a consciência não são um exclusivo humano. A vida, desde a mais pequena, é genericamente inteligente e desenvolve algum tipo de consciência. São inteligências e consciências diferentes das nossas. Mas funcionam perfeitamente. É isso provavelmente que irá suceder com os robôs.

Qual é então o grande desafio que falo na primeira linha deste texto? O aparecimento e evolução de uma nova entidade tão ou mais inteligente do que nós, possivelmente em breve dotada de consciência dos seus atos, coloca-nos numa posição singular. Ou evoluímos rapidamente ou corremos o risco de sermos subjugados. Primeiro no trabalho ou melhor dito na falta dele. Como disse por estes dias Stephen Hawkings: “tenhamos medo do capitalismo, não dos robôs”. As máquinas inteligentes vão ocupando o trabalho humano, o que numa lógica de acumulação de capital não distributivo gera desemprego e miséria por todo o lado. Daí que se fale na necessidade de superar o capitalismo e encontrar novas funções e destinos para a humanidade.

Mas a evolução das máquinas aponta também para outra possibilidade mais negra, mesmo se ainda razoavelmente distante. A de, por inércia e incapacidade de evoluirmos, um dia sermos dominados pelas máquinas.