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Pensar adiante | Clima

Pensar adiante | Clima

As alterações climáticas são uma evidência. Nós, portugueses, habituados a ver de longe furacões e inundações, temos, neste Verão particularmente quente e trágico, a demonstração. Não é impunemente que se anda de t-shirt em Novembro.
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Por todo o planeta o ar vai-se tornando irrespirável, a seca avança até transformar regiões inteiras em desertos, fogos, inundações, tufões, degelo e outras catástrofes, cada vez menos naturais, são agora uma realidade quotidiana incontornável. Então, que dizer da capacidade da humanidade em reagir?

Otimista por natureza, não o sou neste caso. Menos porque não existam soluções e, pelo menos teoricamente não fosse possível resolver o problema, mas porque olhando para o estado em que a humanidade se encontra simplesmente não é possível fazer o que tem de ser feito.

Destaco dois aspetos decisivos desta impossibilidade. O sistema económico e o irracionalismo.

Qualquer ocidental se escandaliza, revolta e até se manifesta nas ruas se for preciso, quando vê desflorestação intensiva, animais a serem abatidos até à extinção, mineração ambientalmente nociva, fábricas fumegantes, oceanos poluídos repletos de plásticos e químicos. No entanto, em grande medida, são esses mesmos ocidentais, em suma, nós, os causadores de tudo isto através das mercadorias que adquirimos e do estilo de vida que consideramos ser civilizado. Está um terço da população mundial disposta a consumir e ostentar menos? Enfim, a mudar de vida? E, já agora, que efeito teria isso na economia em geral sabendo que o capitalismo, tal como o conhecemos, assenta precisamente no consumo e na acumulação sem limite de riqueza?

Outro exemplo, elucidativo, tem a ver com a degradação da natureza. O maior contributo é certamente dado pelas grandes empresas, como é o caso da exploração petrolífera e mineral, a agricultura intensiva ou a criação de gado, mas que dizer desses homens que exterminam rinocerontes ou elefantes só para lhes retirarem cornos e dentes? São certamente brutais criminosos, mas, vistos de perto, são miseráveis à procura de um sustento. Consegue parar-se essa atividade com moralismo? Ou seria preciso proporcionar a esta gente o mesmo tipo de bem-estar que nós temos, com as consequências que estão à vista? A língua inglesa tem uma palavra curiosa para descrever a situação. Chama-se “conundrum”.

Nada disto seria impossível de resolver se o comportamento geral da humanidade fosse focado e racional. No entanto, como se sabe, é o irracionalismo que predomina. Em muitos aspetos. Nas crenças, na política, na conflitualidade social, nas visões, cada uma mais estapafúrdia do que a outra. À medida que os problemas vão crescendo as respostas coletivas tendem a agravá-los. Veja-se a posição atual dos Estados Unidos face ao aquecimento global ou o crescimento das soluções extremistas, desde a extrema-direita ao fundamentalismo islâmico. A humanidade está num processo de fuga para a frente. Mesmo se o abismo está no horizonte. 

Não menos gravoso é o recurso sistemático ao sobrenatural, de que as rezas a pedir chuva são por estes dias um facto anedótico mas preocupante no nosso próprio país, laico, republicano e moderno.

Resta acrescentar que Portugal, por si, não pode fazer nada. O problema é global e como tal tem de ser tratado. 

Enfim, estou certo que a solução virá. Pode é não ser do nosso agrado.