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Manuel Alegre e Carlos Brito atacam “populismo” antipartidos em sessão de homenagem a Soares

Manuel Alegre e Carlos Brito atacam “populismo” antipartidos em sessão de homenagem a Soares

Os antigos candidatos presidenciais Manuel Alegre e Carlos Brito insurgiram-se, durante uma conferência de homenagem ao primeiro líder do PS, Mário Soares, contra “o populismo” antipartidos políticos, equiparando este fenómeno a um ataque à democracia.

Esta posição comum ao dirigente histórico socialista e ao antigo líder parlamentar do PCP foi assumida na segunda conferência dedicada ao percurso político do antigo Presidente da República Mário Soares, intitulada “Construtor da democracia” e que teve ainda uma intervenção de fundo por parte do primeiro presidente do CDS, Freitas do Amaral.

Esta segunda conferência foi moderada pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, tendo na assistência o líder socialista, António Costa, o presidente deste partido, Carlos César, bem como os dois filhos do antigo Presidente da República, João e Isabel Soares.

O antigo dirigente comunista Carlos Brito foi o primeiro a explorar de forma crítica o tema “da campanha contra a política feita todos os dias e que vai desgastando as instituições democráticas”, adiantando mesmo que essa foi uma das principais preocupações de Mário Soares nos últimos anos da sua vida.

“Um dos temas escolhidos pelos fascistas para derrubar a I República em Portugal foi exatamente os partidos. Atualmente, não há dia nenhum em que não apareça mais uma campanha”, advogou.

Referindo-se de passagem à controvérsia em torno da recente tentativa de alteração à lei de financiamento dos partidos, Carlos Brito disse aceitar que seja “desejável que as forças políticas façam um esforço para serem mais coerentes e para desempenharem melhor as suas funções”.

“Mas não se podem rebaixar ao peso destes ataques”, advertiu, antes de Manuel Alegre fazer um ataque cerrado “a forças populistas antipartidos”.

“Cada vez que os partidos se rebaixam, a situação da democracia portuguesa fica pior; cada vez que os partidos cedem à pressão da comunicação social, ficam mais frágeis. É obrigação dos políticos defender a democracia – e a democracia não se faz sem partidos. É preciso coragem”, declarou o dirigente histórico socialista, recebendo uma prolongada salva de palmas da assistência.

Carlos Brito e Manuel Alegre coincidiram também em defesa da tese de que a vitória do PS, sob a liderança de Mário Soares, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 197, “mudou o rumo” da democracia portuguesa.

“O resultado dessas eleições teve rápida repercussão no MFA (Movimento das Forças Armadas). O setor mais moderado sentiu-se legitimado para partir para a luta”, sustentou.

Esta tese foi depois partilhada por Manuel Alegre, advogando que a vitória do PS em 1975 “mudou tudo, incluindo o comportamento dos militares”.

“Mas, neste período, é preciso prestar homenagem a Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, por terem recuperado para a democracia uma direita que estava ligada ao anterior regime, bem como ao Carlos Brito, enquanto líder parlamentar do PCP, para que se concretizasse a Constituição da República em 1976”, disse.

A sessão teve vários momentos divertidos, designadamente quando Alegre contou o episódio de Soares ter cumprimentado com beijinho um anão, julgando que era uma criança, ou quando se pronunciou sobre a “enorme autoconfiança” do fundador do PS.

Segundo o dirigente histórico socialista, após o fim do Governo do Bloco Central, em 1985, as pessoas que rodeavam Soares aconselhavam-no a desistir da sua candidatura presidencial em 1986.

“Uma vez, Mário Soares, depois de ouvir esses conselhos, abriu uma janela que tinha perto de si e disse: Se eu saltar daqui para a rua e decidir que não morro, eu não morro mesmo”, contou Alegre.

Já Carlos Brito referiu-se ao momento em que o PCP decidiu apoiar Mário Soares na segunda volta das eleições presidenciais de 1986.

“Eu não engoli sapo nenhum ao apoiar Mário Soares. Não houve preço, não houve negócio, apenas um acordo tácito entre o PCP e Mário Soares”, frisou o antigo dirigente comunista.