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Mais do mesmo ou mesmo demais

Mais do mesmo ou mesmo demais

A entrevista que o ainda senhor primeiro-ministro concedeu à SIC no conforto de São Bento é uma boa demonstração dos sintomas típicos de qualquer fim de ciclo. A descolagem de Pedro Passos Coelho em relação à realidade do país é tal que se fica com a sensação de que está a falar de um país outro, que não o nosso, aquele que é vivido e sentido diariamente pelas famílias portuguesas. Sem apresentar uma, uminha que fosse, ideia para o futuro: zero, nicles, nada!
Mais do mesmo ou mesmo demais

O pecado original de PPC é que, tendo chegado ao poder assente nas mentiras que disse aos portugueses – que não lhes cortaria nos rendimentos, que não cortaria no subsídio de férias e de Natal, que não aumentaria os impostos sobre os rendimentos, que não faria desparecer a taxa intermédia do IVA para a restauração, etc-, o enganar os portugueses entranhou-se-lhe na pele e tornou-se um vício. A sua palavra tem hoje o valor facial de um catavento. Aliás, na sua candura, isso explica bem a despreocupação que revela na apresentação do programa eleitoral da coligação de direita, vulgo PAF: afinal, é bem verdade, “os portugueses já sabem com o que podem contar”. Em rigor, o Governo da direita até já anunciou em Bruxelas que vai cortar mais 600 milhões de euros na Segurança Social. Onde e quando é que o ainda primeiro-ministro ainda não sabe, só depois das eleições (claro!).

Um outro momento bem revelador do exercício de PPC na SIC foi a total incapacidade – muito perto do vulgar engasganço – que revelou ao falar do documento macroeconómico apresentado por um grupo de economistas, a pedido do PS. À falta de argumentos para o rebater, o remédio do ainda primeiro-ministro é a tentativa de inocular o medo, da troca do seguro pelo incerto.

A única matéria abordada na entrevista que logrou entusiasmar o ainda primeiro-ministro nesta entrevista foi só uma: o apoio entusiástico à Alemanha e às suas posições na União Europeia. Aí sim, PPC escorre uma convicção quase pueril, como se o sol da Terra residisse neste momento em Berlim. Sabemos que PPC foi militante comunista de passagem e há tiques que se mantêm, ainda que a geografia tenha mudado.

De resto, é mais do mesmo ou mesmo demais: austeridade e empobrecimento são as receitas desta direita e daí não sairão. Ou, como diria o professor Cavaco, que no intervalo do seu sermão sobre os peixes *, se lembrou de referir que os portugueses, esse marotões, estão hoje a pagar por anos de “vida fácil” (para quando, senhores, um livro com as principais citações da carreira do professor Cavaco Silva, capaz de enfileirar com as do o seu antecessor Almirante Thomaz?). É assim que pensa esta direita que ainda nos governa, longe das pessoas e do sentir dos portugueses.

É como quando o ainda primeiro-ministro, nesta entrevista, explica que há muitas pessoas que, perante um desempregado, pensam que essa pessoa estará desempregada porque teve “algum” problema. O que é rigorosamente verdade: o problema que os desempregados tiveram foi mesmo este primeiro-ministro, este Governo e as suas políticas. Esse é mesmo “o” problema. Em breve os portugueses poderão, com o seu voto, removê-lo! E apostar, com confiança e segurança, num futuro diferente.

* “Os portugueses são os maiores consumidores de peixe do mundo, no consumo per capita e, mesmo que os stocks no mar sejam controlados e permitam pescarias no futuro, não vão chegar certamente para satisfazer todas as necessidades de peixe dos portugueses”

Aníbal Cavaco Silva, 14-7-2015

Duarte Moral