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Governo trava Unidades de Saúde Familiar

Governo trava Unidades de Saúde Familiar

É mais uma confirmação de que o atual Governo convive mal com o sucesso de algumas medidas da governação socialista. O Ministério da Saúde travou a fundo a criação de novas Unidades de Saúde Familiar (USF), um modelo elogiado pelos profissionais e utentes e previsto no acordo assinado com a troica.
Governo trava Unidades de Saúde Familiar

Este ano, até maio, abriu apenas uma USF, apesar de haver 50 candidaturas ativas, pode ler-se num relatório publicado a 4 de maio no site da Administração Central dos Sistemas de Saúde.

Recorde-se que a criação das USF resulta de uma reforma dos cuidados de saúde primários aprovada em 2006 pelo então ministro Correia de Campos. 

As USF tinham por objetivo ser uma versão mais moderna dos centros de saúde tradicionais, com uma estrutura mais flexível, e que visava dar médico de família a mais pessoas. 

De salientar ainda que as USF funcionam com base em indicadores contratualizados todos os anos com o ministério, prevendo-se pagamentos por incentivos.

INVEJA DE UMA BOA MEDIDA

A revelação, não contestada pelo Governo, de que no ano em curso apenas uma unidade de saúde familiar (USF) tinha sido criada choca por vários motivos: as USF são reconhecidamente a melhor forma de organizar cuidados de saúde primários em centros de saúde, do ponto de vista da qualidade dos cuidados e do serviço ao cidadão; são a forma de, com menos ou os mesmos recursos, se obterem mais e melhores resultados, ou seja são um modelo eficiente, tal como foi referido no memorando da troica que encorajava o Governo a prosseguir na sua expansão; pelo seu mecanismo de incentivos cobrem mais utentes que o modelo convencional, aportam mais elevado grau de satisfação aos profissionais nelas envolvidos, evitam as longas madrugadas à espera de senha de consulta e melhor controlam o desperdício da prescrição excessiva e da repetição desnecessária de meios de diagnóstico.

O sistema foi abraçado por participantes de todas as opiniões políticas, da esquerda à direita, tornando-se rapidamente consensual, apenas necessitando de que a administração da saúde facilitasse a sua criação, sendo muito reduzidos os encargos de investimento.

Depois de o atual Governo tanto ter insistido em apelos ao consenso, depois da experiência traumática da crise das urgências no inverno passado, em que todos os comentadores coincidiam na necessidade de melhorar os cuidados primários através da rápida expansão de USF, esperava-se que o Governo, desejoso de agradar, lutasse por mais USF. Nada disso, o Governo apenas propôs sobrecarregar os atuais médicos de família com mais doentes nas suas listas para disfarçar, de forma administrativa, a existência de muitos utentes sem médico de família, sobretudo nas regiões de maior concentração populacional. 

Não consigo vislumbrar nesta aversão do Governo às USF um padrão ideológico. As USF são uma forma de introduzir competição e livre escolha dentro do SNS, valores que certamente o Governo não rejeita. Apenas vejo uma razão para este desprezo. Uma razão tão mesquinha que carece de confirmação. Será pura inveja? Será que o Governo tem ciúmes do êxito nacional de uma medida só pelo facto de ela ter sido lançada por governos do PS?

António Correia de Campos