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Fundadores e personalidades do PS

Fundadores e personalidades do PS

Mário Soares foi, sem dúvida, a mais importante figura da História recente de Portugal.
PS faz hoje 44 anos

Entre muitos outros resistentes ao regime fascista, ele não seria apenas uma referência de coragem e coerência antifascista, o que lhe valeria a prisão e o exílio, bem como o silêncio sobre o seu próprio nome imposto pela censura prévia. Mário Soares teve um papel decisivo na criação de uma alternativa democrática ao regime, nomeadamente com a criação de movimentos de orientação socialista democrática, que culminariam com a fundação do PS em 1973, e na mobilização de vastos setores que defendiam uma democracia política pluripartidária, desmentindo o repetido slogan salazarista de que não havia uma alternativa ao regime que não fosse o comunismo.

No entanto, Soares voltaria a ter um papel decisivo na edificação do regime democrático no período a seguir ao 25 de Abril. É verdade que os principais partidos portugueses, a quem devemos a construção da democracia e a Constituição de 1976, tiveram lideranças fortes, prestigiadas e carismáticas. Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal foram os principais autores do atual regime democrático. No entanto, sobre a liderança de Mário Soares, o PS lideraria e mobilizaria o vasto movimento popular de afirmação de uma democracia pluripartidária pró europeia, conciliando a afirmação dos direitos humanos com a concretização de políticas sociais, pelo que seria, desde os anos seguintes ao 25 de Abril, a força política mais representativa e influente.

Como resistente antifascista, como líder partidário no regime democrático, mais tarde como ministro e primeiro-ministro e na qualidade de Presidente da República – seria reeleito para um segundo mandato com mais de 70% dos votos dos portugueses -, Mário Soares manteria os traços essenciais do seu percurso político: coragem cívica, coerência, solidariedade, intuição, visão estratégica e, sobretudo, um ilimitado vínculo à liberdade, à liberdade por que tanto se bateu e que tanto lhe devemos.

Alberto Arons de Carvalho

“Mário Soares, homem de grandes causas”

A democracia durante a ditadura, a descolonização após o 25 de Abril e a opção europeia contra uma indecifrável via terceiro-mundista podem considerar-se as linhas políticas maiores de atuação de Mário Soares.

Na vida de quem se possa dizer que representa a maior biografia política da sua geração, em Portugal, como é o caso de Mário Soares, é natural que a História venha a apontar pontos altos da sua visão e das suas decisões e pontos não tão altos ou, até, alguns mais baixos. A História se encarregará desta hierarquia.

Todavia, um aspeto se virá a impor a qualquer subjetividade, mesmo à dos julgamentos mais severos. O vazio estratégico nas grandes decisões políticas nunca constituiu a característica da sua opção. Sempre soube o que pretendia a longa distância da hora da decisão. Essa hora coincidiria com as circunstâncias que viessem a facilitar a realização dos objetivos. Guardo a ideia de que sempre se preocupou com o tempo das decisões. Sabia que, estas, tomadas antes ou fora de tempo podem apresentar idêntico grau de crítica, contestação e inviabilidade.

E quando alguém se lhe apresentava a falar sério de assuntos de lana-caprina, a sua resposta era, normalmente, um indisfarçável bocejo…

Ouvi dizer a muita gente que Mário Soares era um homem com sorte. A sorte para um político mede-se quando ele consegue contrariar a situação mais comum, daqueles que só veem as oportunidades depois delas terem passado. Isto é muito importante porque as oportunidades são as portas de entrada que potenciam as decisões. A este jogo, avaliação, melhor oportunidade para enunciar e implementar as políticas pode chamar-se pensamento estratégico. Mário Soares não só tinha esta capacidade pessoal como a aconselhava aos seus colaboradores.

Quem trabalhou com Mário Soares deve com certeza ter notado que ele era um trabalhador secreto, no sentido de que nunca se lhe ouviu dizer que estava com muito trabalho ou apenas que tinha alguma coisa para fazer. E, claro, pelas funções que desempenhou e pela carreira política que teve, o trabalho, as preocupações e as ocupações nunca lhe faltaram, como é evidente. Creio que este aspeto da sua personalidade se deve ao gosto de viver e fruir todos os bons aspetos da vida. Cultivava a amizade e a convivência. E era um amigo de todas as horas, sendo de salientar que preferindo os bons momentos não faltava com solidariedade aos amigos nas horas más. Desta solidariedade sou testemunha.

Manuel Pedroso Marques

“Adeus Mário Soares, até sempre”

Meu amigo, meu camarada, minha referência no privilégio da amizade, na lição constante de uma vida vivida de acordo com a convicção mais forte que um homem pode ter, a convicção da liberdade.

Sei que nos deixaste e todavia sei que continuas presente, uma sensação de omnipresença que se respira e nos inspira para continuar, para nunca desistir, para insistir sempre no que verdadeiramente acreditamos que vale a pena. Capacidade para acreditar. Em nós próprios, nos outros com quem fazemos caminhos comuns, na força das ideias que nos movem, nos desígnios que dão razão às causas que partem da vida para transformar a vida. Liberdade e solidariedade.

Foi assim que te vi em tantos anos deste trajeto de construir a democracia. Mas ao contrário deste texto, nunca te tratei por tu, meu amigo Mário. Afinal eu era de outra geração mais nova, dos discípulos. Eu era dos que liam o Portugal Amordaçado e achava que do fascismo à democracia uma revolução coperniciana tinha mudado o destino de Portugal. Mudou o meu – da guerra colonial onde não tive de ir, das perseguições que vi passar por perto sem me terem chegado a atingir, da humilhação de uma sociedade fundada na hipocrisia, no temor reverencial, na desigualdade.

Hoje, meu amigo Mário, à porta da Camara Municipal de Lisboa, lá onde um dia se proclamou a República e em nome da República te aplaudimos envolto na bandeira nacional, hoje decidi que me inspiraria no teu modo de ser, simultaneamente respeitador do valor das instituições e ao mesmo tempo iconoclasta o bastante para deixar sempre claro que o bem mais precioso é o da dignidade dos homens e que na afirmação dessa dignidade toda a coragem nunca é demais.

Foi tanto disso que aprendi contigo. Que os ideais do socialismo democrático são muito mais do que uma ideologia porque ou são uma forma de cultura vivida ou pouco serão. Porque ou são um modo de incessantemente combater pela justiça ou pouco se distinguirão na cartilha dos vários ismos.

Não concordámos sempre. E que importância teve isso no gosto da convivência, de conspiração quando era preciso, do combate com gosto pelas causas sempre renovadas.

Hoje, meu amigo Mário, à tua passagem, lembrei-me dos versos do David Mourão Ferreira “Há-de vir um Natal e será o primeiro em que só uma voz me evoque a sós contigo”.

E é por isso que pela primeira vez te tratei por tu – com a ousadia desta simples ambição: ajudar a dizer às gerações depois da minha que por todos os Natais que virão muitos e muitos se sentarão à mesa e se lembrarão de um vulto enorme da história de Portugal. De seu nome Mário Soares, aquele Soares sempre fixe. Afinal, para além de tudo o mais, um amigo e um camarada na História de Portugal, da democracia portuguesa, do Partido Socialista, que quase tudo lhe deve.

Jorge Lacão

“Estamos de Luto!”

Estamos de luto com a perda deste grande homem, fundador do Partido Socialista e da Democracia, referência do país e símbolo de Portugal no Mundo.

Mário Soares foi o maior português e o maior político do século XX, o que mais lutou pelos direitos e liberdades, o que nunca desistiu e sempre acreditou que o caminho era pela Liberdade, pela Paz, pela Democracia e pelo bem-estar das pessoas.

Foi um homem corajoso, que lutou com convicção, um político de eleição que permanecerá sempre em nós como exemplo e referência da luta pela liberdade e pelos regimes democráticos.

Reconhecimento e Gratidão são palavras curtas para agradecer o que nos deixou.

Mário Soares permanecerá connosco para sempre!

Teremos de cumprir, para o homenagear todos os dias, o grande legado que nos trouxe e deixou, a LIBERDADE!

A LIBERDADE foi o grande desígnio de Mário Soares, viveu e lutou para a cumprir antes e depois de Abril. Esta semana perdemos ainda Guilherme Pinto, um homem profundamente determinado e que lutava corajosamente pelas causas em que se envolvia e nas quais acreditava. Mesmo lutando contra a doença, que não conseguiu vencer, continuou a entregar-se à causa política e a Matosinhos, e a deixar o melhor de si cravado na nossa memória e na dos seus munícipes. Estes são dias tristes para todos e todas nós.

Vivam para sempre!

OBRIGADA!

Elza Pais

Mário Soares foi e será sempre o primeiro rosto da democracia em Portugal. Com a sua ação, com o seu carácter, inspirou várias gerações de Portugueses, como certamente continuará a suceder no futuro. O país perdeu o seu político excecional.

João Torres