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Francisco Assis: PS parte para eleições “para ganhar”

Francisco Assis: PS parte para eleições “para ganhar”

O líder parlamentar do PS diz que tem dever de lealdade em relação à direção do partido e adverte que quem constrói uma vida política em função da ambição de ser secretário-geral torna-se fatalmente um “mero calculista”.

 

 

Em entrevista à agência Lusa, o presidente do Grupo Parlamentar do PS recusou-se a responder se José Sócrates deve demitir-se da liderança do seu partido se perder as eleições legislativas, argumentando que tal se trata de uma “especulação indevida” e que os socialistas partem para o próximo ato eleitoral “para ganhar”.
“Dentro de dois meses estaremos a disputar eleições e vamos com vontade de as ganhar, mas em democracia tudo é possível e os vários cenários têm de ser equacionados. Porém, neste momento, seria prejudicial estar a comentar o que aconteceria se nós perdêssemos. Veremos, essas coisas não se antecipam”, alegou.
Interrogado se, ao fim de ano e meio como líder parlamentar do PS, teme ficar associado às vozes de continuidade dentro do seu partido, Assis contrapôs: “no PS seremos sempre vozes de continuidade e de rutura ao mesmo tempo. Todo o político responsável tem de assegurar permanentemente alguma continuidade e alguma rutura”, disse.
Francisco Assis definiu-se depois como “um homem leal”, que foi convidado para ser líder parlamentar do PS dentro de um determinado projeto político e como uma determinada liderança do partido.
“Aceitei e, a partir desse momento, tenho um dever de lealdade. Não se constrói o futuro desertando do presente – isso para mim é uma evidência absoluta. Em nenhuma organização os heróis do futuro se podem construir com base na deserção do presente”, afirmou ainda.
Confrontado com posições do deputado socialista António José Seguro que criticou o Governo quando aumentou o IVA, ou quando recusou o referendo ao Tratado da União Europeia, Assis observou que “cada um é responsável pelo seu caminho e pelos seus atos”.
“Eu assumi funções de responsabilidade como líder parlamentar do PS e tenho este dever de lealdade. Era o que faltava se me furtasse ao dever de solidariedade, mas não quero entrar em qualquer tipo de debate com camaradas por quem tenho apreço político e pessoal, como é o caso de António José Seguro”, respondeu.
Confrontado com a ideia de que disputa a Seguro a sucessão de José Sócrates no cargo de líder do PS, Assis afirmou-se despreocupado com esse tipo de análises.
Porém, deixou um recado claro: “Tenho um princípio que aprendi há muito tempo na vida política que é o de não deixar de fazer nada daquilo que em consciência tenho de fazer em função de qualquer ambição futura, porque isso destrói-nos na vida política. Isso torna-nos meros calculistas e isso leva-nos a não ter qualquer tipo de participação útil em muitos momentos da vida pública, já que estamos sempre a ponderar em função de um ideal momento futuro que há-de surgir (presume-se que fatalmente) em qualquer ocasião”, afirmou.
Neste ponto, Assis contrapôs que nunca pensou a sua vida política “como uma carreira”.
“Travei combates em que sabia de antemão que provavelmente perderia, como, por exemplo, quando me candidatei a presidente da Câmara do Porto (2005). Achei que tinha essa obrigação perante o partido e a sociedade”, disse, antes de negar que a sua ambição seja ser secretário-geral do PS.
“Na vida terei uma, duas ou três ambições profundas não realizadas. Ser secretário-geral não é uma delas, mas isso não significa que afirme perentoriamente que tal não ocorrerá”, ressalvou.
O líder parlamentar do PS nega que o Governo esteja a recusar a ajuda externa para ter argumentos de defesa na próxima campanha eleitoral, contrapondo que a gestão da crise financeira está a ser feita com discrição.
Segundo o líder da bancada socialista, a partir de 2009, Portugal enfrentou “uma gravíssima crise financeira de origem externa, com consequências enormes no país, que o obrigou depois a adotar uma linha de orientação que motivou um alargamento do défice orçamental”.
“Mas nos três primeiros anos de Governo de José Sócrates uma das preocupações centrais foi a redução drástica do valor do défice”, vincou, antes de rejeitar que tivessem existido exageros em Portugal ao nível dos programas de obras públicas.
“A prioridade do país era dotar-se de infraestruturas que o tornasse mais atrativo e mais competitivo num quadro internacional mais exigente”, respondeu, dando como exemplos de projetos de “qualificação do território” o novo aeroporto de Lisboa, o comboio de alta velocidade e as obras no plano rodoviário.
Para Assis, estas obras fizeram também sentido em função de Espanha, “porque Portugal não é uma ilha e tem de estar articulado no quadro europeu”.
“Mas, neste momento, temos de rever algumas coisas, porque as circunstâncias de financiamento se alteraram. Enquanto essas circunstâncias continuarem neste estado, temos de ter atenção a isso, evidentemente”, justificou.
Já sobre a constante subida dos juros de Portugal nos mercados internacionais, o presidente do Grupo Parlamentar do PS rejeitou que o Governo esteja a fazer um braço de ferro em torno do recurso à ajuda externa.
“Não é um braço de ferro, mas uma convicção profunda do primeiro-ministro, a qual compartilho. Devemos fazer – e fizemos – tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar a necessidade de recorrer à ajuda externa, porque essa ajuda externa vem acompanhada da imposição de programas que penalizam largos setores da população portuguesa”, sustentou.
De acordo com o líder parlamentar do PS, neste momento, o Governo está a procurar evitar simultaneamente cenários de ajuda externa e de bancarrota.
“Mas, com o chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento, as circunstâncias alteraram-se e degradaram-se, bastando para tal ver o que tem acontecido nos últimos 15 dias. Temos de prosseguir a nossa linha de atuação no sentido de dar sinais claros de que estamos a fazer aquilo que tem de ser feito e veremos dia a dia qual a situação. Não vamos antecipar cenários de crise, porque, nestas coisas, antecipá-los teoricamente tem a consequência de antecipá-los também na prática. Compreendo que haja da parte do Governo uma grande preocupação em gerir tudo com a devida discrição”, defendeu Assis.
Confrontado com as preocupações do ex-Presidente da República Mário Soares sobre promiscuidade entre política e negócios em Portugal, Assis disse acreditar que o país já viveu períodos piores nesse aspeto.
“Acho bem que haja personalidades como Mário Soares que salientam permanentemente a necessidade de se operar uma distinção entre o mundo dos negócios e o mundo da política. Cada um destes mundos tem a sua lógica própria”, frisou o líder da bancada socialista.
Na perspetiva de Assis, “quando aparentemente há alguma circulação entre mundo dos negócios e política, isso cria uma má imagem e prejudica as nossas instituições democráticas”.
“É preciso sempre garantir que o interesse público de uma sociedade prevalece sobre os vários interesses particulares. Essa é a função dos políticos. A função da estrutura política é garantir a regulação das sociedades e a salvaguarda do interesse público sobre os diferentes interesses particulares”, reforçou Francisco Assis.
Francisco Assis considera que a recente aproximação política entre o PCP e o Bloco de Esquerda não constitui uma ameaça para o seu partido, alegando que trata da conjugação de “dois arcaísmos diferentes”.
 “Essa aproximação não é uma ameaça ao PS, até porque considero que, neste momento, ainda se trata da conjugação de dois arcaísmos diferentes. Nesse sentido, nada trás de novo ou de positivo”, comentou.
Para Francisco Assis, se a aproximação entre PCP e Bloco de Esquerda fosse “um sinal de renovação e de abertura para outro diálogo dentro da esquerda, isso poderia ser positivo”.
“Acredito que isso venha acontecer a prazo, porque não é possível que estes partidos [PCP e Bloco de Esquerda] continuem tão fechados ao mundo como têm estado”, sustentou, já depois de considerar que, até ao presente, comunistas e bloquistas se revelaram “os maiores aliados da direita” em Portugal.
“Infelizmente, em Portugal ainda não se pode conceber uma solução de Governo com partidos que divergem de toda a esquerda democrática europeia em quase tudo, desde as questões económicas, até ao projeto europeu, passando pela abordagem sobre os novos fenómenos da globalização e da política externa. Esse enclausuramento das forças da extrema-esquerda em posições completamente ultrapassadas tornam-nas inúteis do ponto de vista de um contributo sério para a afirmação vitoriosa da esquerda em Portugal”, acrescentou o líder parlamentar do PS.