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Como se fabrica uma “notícia”

Como se fabrica uma “notícia”

“Wall Street Journal admite um novo resgate a Portugal”. A notícia correu esta semana pela imprensa económica e generalista nacional, reproduzindo-se num exercício de mimetismo. Uma análise mais atenta à sua fonte e origem permite, contudo, uma revelação interessante sobre como se constrói e propaga uma certa forma de fazer jornalismo.
Como se fabrica uma “notícia”

O artigo em torno do qual a notícia é construída – “Will Portugal be next flashpoint in eurozone debt crisis?”, onde o autor elabora sobre uma série de cenários hipotéticos e especulativos – não é, na verdade, uma notícia do WSJ ou uma posição editorial do jornal. Trata-se simplesmente de um mero artigo de opinião de um colunista do portal Marketwatch, William Watts, conhecido pelo seu posicionamento neoliberal.

O exercício de transformar a opinião de um colunista – que, como é natural, apenas vincula o próprio – numa posição defendida pelo jornal onde é publicado causa perplexidade. A mesma perplexidade que seria experimentada se fosse noticiado que o jornal “Diário de Notícias” anuncia o apocalipse, tomando-o pela coluna de opinião de João César das Neves, ou o seu contrário, associando-o à opinião de um outro colunista, nos seus antípodas.

Mas é, sobretudo, porque feito e difundido pelos pares, um exercício de mau jornalismo. Descuidado, preguiçoso e pouco rigoroso.

Poder-se-á debater, também, a intencionalidade – o jornal online Observador assume, legitimamente, uma agenda politizada, à qual interessa que as notícias tenham o molde conveniente. Não é esse, no entanto, o ponto que está em causa. O rigor, a confirmação e a citação das fontes são ensinados em todas as escolas de formação de jornalistas. Mesmo dos do Observador.