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António Costa esperançoso em “porta que se abriu”

António Costa esperançoso em “porta que se abriu”

Um consenso sobre um instrumento comum de emissão de dívida não foi possível no Conselho Europeu de quinta-feira, mas o primeiro-ministro português considera que “há uma porta que se abre”, afirmando que a discussão ficou "em aberto" e que pelo menos um dos Estados-membros que se opõem à ideia manifestou disponibilidade para discuti-la.
António Costa esperançoso em “porta que se abriu”

Na conferência de imprensa após o final da cimeira extraordinária, que teve lugar por videoconferência, António Costa aludiu à carta que subscreveu com outros oito líderes europeus, dirigida ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, reclamando a implementação de um instrumento europeu comum de emissão de dívida para enfrentar a crise provocada pela pandemia de Covid-19, para afirmar que, aos 9 Estados-membros que defenderam a emissão, “hoje houve mais quatro que se juntaram”, sendo que outros quatro “se opuseram abertamente” e os demais “não tomaram posição”.

António Costa precisou que, “em boa verdade”, dos quatro que se opuseram três são “totalmente contra” e “um que, sendo contra, tem abertura de espírito para discutir o que anteriormente nunca esteve disponível para discutir”. “É uma porta que se abre, dá algum alento”, afirmou.

O primeiro-ministro voltou a sublinhar que a emissão de ‘eurobonds’ para fazer face aos impactos da crise pandémica é fundamental e está prevista nos tratados, advertindo que “a Europa não pode ficar aquém do que os cidadãos pedem da Europa”.

“É difícil imaginar uma situação mais extraordinária que atinja de forma tão global os Estados-membros e por uma razão absolutamente estranha”, afirmou, frisando “a Europa precisa de muito mais que do que um denominador comum”, referindo-se ao resultado do Conselho Europeu nesta matéria.

António Costa voltou a congratular-se com as medidas já adotadas pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, assim como o mandato dado ao Eurogrupo para apresentar propostas, mas insistiu que deste Conselho saiu “um acordo que é o possível, mas que é manifestamente insuficiente para aquilo que é exigível da Europa”.

“Já vimos a Europa não conseguir dar resposta cabal a uma crise como as migrações” e “vimos bem como a Europa teve dificuldade em responder à crise de 2008”, apontou. Agora, prosseguiu, “com uma crise muitíssimo superior, se nos mantemos nas mesmas posições, a Europa sofrerá muitíssimo com esse tsunami”.

Declaração de ministro holandês é “repugnante” e contrária ao espírito da UE

António Costa não deixou, também, de comentar com indignação as declarações do ministro das Finanças holandês, que sugeriu que a Espanha fosse investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia de Covid-19, qualificando o discurso de Wopke Hoekstra como “repugnante” e contrário ao espírito da União Europeia.

“Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante”, disse António Costa, apontando que a afirmação do ministro holandês “é uma absoluta inconsciência” e uma “mesquinhez recorrente” que “mina completamente aquilo que é o espírito da UE e é uma ameaça ao futuro da UE”.

“Se a União Europeia quer sobreviver, é inaceitável que qualquer responsável político, seja de que país for, possa dar um resposta dessa natureza perante uma pandemia como aquela que estamos a viver. Se não nos respeitamos uns aos outros e se não compreendemos que, perante um desafio comum, temos de ter capacidade de responder em comum, então ninguém percebeu nada do que é a União Europeia”, reforçou.

António Costa considerou ser “boa altura” de todos os Estados-membros compreenderem que nenhum país resolve, por si só e com uma atitude egoísta, um problema que é comum e que afeta a todos no espaço europeu. “Porque numa União Europeia que assenta na liberdade de circulação, de pessoas e bens, em fronteiras abertas, o vírus não conhece fronteiras”, acrescentou.