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Adesão à CEE e papel de charneira do PS moldaram os primeiros anos da democracia portuguesa

Adesão à CEE e papel de charneira do PS moldaram os primeiros anos da democracia portuguesa

O antigo fundador e primeiro líder do CDS, Diogo Freitas do Amaral, destacou ontem a visão e liderança de Mário Soares no pedido de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, como “um dos momentos históricos” dos primeiros anos da democracia portuguesa.
Adesão à CEE e papel de charneira do PS moldaram os primeiros anos da democracia portuguesa

“Nem todos concordaram, o próprio PSD manifestou dúvidas e andou uma semana a tentar encontrar uma forma de se demarcar. Mas, o CDS deu o seu imediato apoio”, contou Freitas do Amaral, intervindo na segunda sessão do ciclo “Celebrar Mário Soares”, organizado pelo Partido Socialista, dedicada a recordar a contributo do antigo Presidente da República e fundador do PS para a construção do regime democrático.

Esta segunda conferência, intitulada “Mário Soares, construtor da democracia”, que decorreu na sede nacional do PS, no Largo do Rato, foi moderada pela Secretária-geral adjunta socialista, Ana Catarina Mendes, registando ainda a presença na assistência do Secretário-geral do PS, António Costa, do líder parlamentar Carlos César e dos dois filhos do antigo chefe de Estado, João Soares e Isabel Soares.

Freitas do Amaral, o primeiro dos três oradores convidados, considerou mesmo, na sua intervenção, que o fundador e primeiro Secretário-geral do PS foi essencial no papel de “legitimar internacionalmente” a revolução de Abril, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório, não deixando de observar na sua intervenção que os valores da democracia, da Europa e da justiça social, cerca de quatro décadas volvidas, “são valores que só os encontro hoje no PS”.

O também antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, em dois governos constitucionais, destacou igualmente a ação congregadora de Soares para a normalidade das relações entre o Estado e a Igreja nos anos que se seguiram à Revolução de Abril, elogiando ainda “a forma amável” como o primeiro líder socialista recebia sempre em audiência os líderes da oposição.

Numa nota mais pessoal, Freitas do Amaral recordou, uma vez mais, as boas relações que sempre manteve com Soares, logo desde o início do regime democrático.

“As nossas boas relações começaram logo em 1974. Felicitou-me por ter fundado o CDS, dizendo-me que este partido seria essencial à democracia portuguesa”, referiu.

Freitas do Amaral contou, a este propósito, que no dia após a sua derrota na segunda volta nas presidenciais de 1986 recebeu em casa, em Cascais, um “enorme” ramo de flores que lhe tinha sido mandado por Mário Soares e Maria de Jesus Barroso.

“O ramo de flores tinha um cartão a elogiar forma como eu me tinha batido nessas eleições presidenciais de 1986”, acrescentou, testemunhando a dimensão política e pessoal de Soares.

Vitória na Constituinte mudou rumo da democracia

O debate teve também como figuras centrais os antigos candidatos presidenciais Carlos Brito, que foi dirigente e líder parlamentar do PCP, e Manuel Alegre, que coincidiram na ideia de que a vitória do PS, sob a liderança de Soares, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, “mudou o rumo” da democracia portuguesa.

“O resultado dessas eleições teve rápida repercussão no MFA (Movimento das Forças Armadas). O sector mais moderado sentiu-se legitimado para partir para a luta”, disse Carlos Brito, secundado por Manuel Alegre, que assinalou que essa vitória do PS e de Soares “mudou tudo, incluindo o comportamento dos militares”.

“Mas, neste período, é preciso prestar homenagem a Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, por terem recuperado para a democracia uma direita que estava ligada ao anterior regime, bem como ao Carlos Brito, enquanto líder parlamentar do PCP, para que se concretizasse a Constituição da República em 1976”, acrescentou o histórico socialista.

Combater o populismo antipartidos

Durante o debate, Manuel Alegre e Carlos Brito partilharam também uma posição comum contra “o populismo” antipartidos políticos, equiparando este fenómeno, cada vez mais presente no espaço mediático, a um ataque à democracia.

O antigo dirigente comunista foi o primeiro a abordar o tema, criticando a “campanha contra a política feita todos os dias e que vai desgastando as instituições democráticas”, adiantando mesmo que essa foi uma das principais preocupações de Mário Soares nos últimos anos da sua vida.

“Um dos temas escolhidos pelos fascistas para derrubar a I República em Portugal foi exatamente os partidos. Atualmente, não há dia nenhum em que não apareça mais uma campanha”, assinalou.

Salientando ser “desejável que as forças políticas façam um esforço para serem mais coerentes e para desempenharem melhor as suas funções”, Carlos Brito advertiu, no entanto, que os partidos “não se podem rebaixar ao peso destes ataques”, posição em que foi acompanhado por Manuel Alegre.

“Cada vez que os partidos se rebaixam, a situação da democracia portuguesa fica pior. Cada vez que os partidos cedem à pressão da comunicação social, ficam mais frágeis. É obrigação dos políticos defender a democracia – e a democracia não se faz sem partidos. É preciso coragem”, declarou o dirigente histórico socialista, recebendo uma prolongada salva de palmas da assistência.