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A progressiva mudança de papéis

A progressiva mudança de papéis

Depois da apresentação pelo PS do documento de cenário macroeconómico “Uma década para Portugal”, elaborado por um conjunto de reputados economistas, no passado dia 21, a direita entrou em estado de frenesim enervado. Justificado. A demonstração de que existe uma alternativa sólida, credível, testada e responsável à política austericida seguida nos últimos quatro anos provocou um abalo forte nas hostes da ainda maioria. A partir desse momento, o ainda Governo remeteu-se já à condição de oposição ao PS.
A progressiva mudança de papéis

No dia seguinte, no debate parlamentar que devia ter sido dedicado ao Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo, os seus representantes – da ministra Maria Luís ao ministro Paulo Portas, chamado à última hora para ajudar na tarefa, passando pelos deputados – concentraram-se na discussão do documento socialista. Foi uma muito reveladora mudança de papéis em pleno cenário parlamentar.

Mas as sinetas de alarme da direita não ficaram por aí. Foram ao ponto, imagine-se, de antecipar a celebração de um casamento que, depois de litigâncias várias, estava finalmente agendado para Maio. Foi de conveniência e foi à pressa. E, assim, em pleno 25 de Abril, foi anunciada a boda, com a convicção do menino que é dono da bola e não quer que outros joguem com ela.

Mas nesta promoção do PS a Governo e do ainda Governo já a oposição ao PS faltava ainda o “número” Marco António Costa, o inimitável Marco António Costa (MAC), verdadeiro especialista em Finanças Públicas como demonstrou como responsável no estado de cataclismo financeiro a que chegou a Câmara de Gaia sob o comando da inesquecível dupla Menezes-Marco António.

Através de carta tardia, enviada simultaneamente ao PS e à comunicação social, lá veio pedir explicações e sugerir até que o documento “Uma década para Portugal” fosse alvo de visto prévio de duas entidades – a UTAO e o Conselho de Finanças Públicas. Sobre esta última sugestão ficou demonstrado, certamente apenas uma minudência para um espírito iluminado como o de MAC, que é uma hipótese que a lei não permite. Sobre os pedidos de explicações propriamente ditas, o PS dispôs-se a responder, como sempre estará a qualquer pedido de explicação. Mas, como notou até o seu correligionário Pedro Santana Lopes, este “número” de Marco António Costa é o paradigma do ato falhado: corresponde à promoção do documento macroeconómico do PS a um verdadeiro Orçamento de Estado e à passagem antecipada do ainda Governo já à oposição.

As coisas são como são: o Plano de Estabilidade e o Programa de Reformas do Governo já são do plano do passado e o que é importante é “Uma década para Portugal”.

Resumindo: este bónus temporal de prolongamento da Legislatura que o ainda senhor Presidente da República concedeu ao ainda Governo (recorde-se que em 2011 as eleições foram em Junho) caracterizar-se-á por uma progressiva adaptação ao futuro pós-eleitoral, com a direita já a confortar-se no papel de oposição ao PS.

Duarte Moral