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A doença e os sintomas

A doença e os sintomas

As últimas semanas demonstraram o evidente. O ainda Governo da direita deixou de governar para se transformar numa espécie de roadshow permanente do que tenta fazer parecer como um “milagre” português. Cantando, tenta espalhar por toda a parte, mas tem-lhe faltado algum engenho e não menos arte. É a canção dos “cofres cheios”. O problema é a desadequação da “letra” com a realidade. Porque os portugueses, esses, na sua generalidade, continuam de bolsos vazios.
A doença e os sintomas

Qualquer décima percentual de uma qualquer estatística equivale a vários membros do Governo nas televisões a reclamarem um enorme “sucesso”. A verdade é que, se o ridículo pagasse imposto, com este Governo o problema da dívida estaria resolvido… (e não só não está, como foi bastante agravado!). E, todavia, este é o Governo que, segundo teoriza o ainda primeiro-ministro, se está “nas tintas” para os sintomas quando o problema é o de curar a doença. Trata-se de uma visão que revela bem a sensibilidade social de Passos Coelho. Porque, pelos vistos, para ele as pessoas não passam de sintomas… Os sintomas, presume-se aqui, que sejam “minudências” como o desemprego ou o tremendo garrote que se abateu sobre as famílias portuguesas, os seus rendimentos e a sua qualidade de vida. Mas o problema é quando – como aconteceu- os sintomas se agravaram brutalmente e a doença até piorou, traduzível no aumento da dívida, que no final de 2014 se fixou nos 130,2% (!). Esta é a marca do “sucesso” deste Governo da direita, que em português corrente se traduz numa palavra: fracasso. Ou mesmo em duas: fracasso total.

Pode, pois, o ainda primeiro-ministro recorrer às mais criativas metáforas, como a dos sintomas e da doença. Mas não há nenhuma metáfora que permita esconder uma realidade objetiva: ao fim de 4 anos de “tratamento” pela direita, os portugueses vivem muito pior e o país não está melhor. A solução passa, obviamente, por mudar de médico, mudar de tratamento e mudar de receita. Porque, ao contrário do que a direita gosta tanto de garantir, há outros médicos, há outros tratamentos e há outras receitas.

PS – Um dos momentos mais surrealistas da semana que passou foi ver o ainda primeiro-ministro de Portugal a acusar o secretário-geral do Partido Socialista, a propósito de um sms que este enviou a um jornalista do Expresso, exercendo o direito ao protesto contra o conteúdo de um artigo, de contribuir para um clima de claustrofobia democrática sobre os media portugueses. Sim, surrealista. Desde logo pelos factos: todos, políticos e jornalistas, têm direito a criticar, tanto como a serem criticados.

Mas também porque sendo o surrealismo caracterizado por uma enfatização do papel do inconsciente no processo criativo, bastava olhar para o friso que se reuniu na primeira fila deste discurso do presidente do PSD, num evento comemorativo do aniversário do seu partido, para se perceber a natureza surrealista da afirmação: Pedro Santana Lopes, comentador na SIC, Luís Marques Mendes, comentador na SIC, Manuela Ferreira Leite, comentadora na TVI e Marcelo Rebelo de Sousa, comentador na TVI, Marco António Costa, comentador na RTP. Chega?

Duarte Moral