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“A direita esqueceu de vez o interesse nacional”

“A direita esqueceu de vez o interesse nacional”

Promessas e faturas

O Governo e Passos Coelho continuam a ter “um comportamento irresponsável na nossa relação com a Europa”. Porfírio Silva lembra que a “postura confrontacional” dos governos de Portugal e de Espanha foi sinalizada, logo no início, “como obstáculo a um entendimento com a Grécia”. Para o dirigente socialista, usar a expressão “conto de crianças” para falar de um Estado Membro, como fez Passos Coelho, “revela absoluta falta de sentido de Estado”.

 

Agora, acrescenta, “Passos Coelho aposta outra vez em que as coisas corram mal. Isso é de uma extrema irresponsabilidade, porque qualquer novo agravamento na crise europeia terá consequências imprevisíveis em todas as economias”. Em entrevista ao AS Digital, Porfírio Silva defende que “a direita esqueceu de vez o interesse nacional, já só faz cálculos de interesse eleitoral”.

O Governo garante que Portugal está preparado para uma saída da Grécia do euro. Essa garantia é suficiente?
Dizer que estamos preparados para a saída da Grécia do Euro é outra irresponsabilidade. Ninguém sabe o que pode acontecer. A saída de um país do Euro não tem precedentes. Ninguém está preparado para um terramoto – e isto pode ser um terramoto. Esta minicrise, antes de qualquer desenlace, já pôs em causa a estratégia do governo. O Plano de Estabilidade do governo aposta numa acentuada baixa de juros, contrariamente ao cenário do PS, que é muito conservador nesse ponto. No dia de hoje, com as taxas de juro de hoje, o plano do governo já está posto em causa. Dizer que estamos preparados para uma crise do Euro revela que o governo está fechado numa caixa escura sem qualquer contacto com a realidade: uma subida de 3, ou 4 ou 5 pontos nas taxas de juro vai lançar ainda mais famílias com crédito para o incumprimento e agravar ainda mais as dificuldades das empresas. O governo continua a falar de um país abstracto, de costas para a realidade.

É possível acreditar ainda num acordo entre a Grécia e o Eurogrupo?
A Europa, a Grécia, Portugal, todos temos a ganhar com um acordo. O PS, e António Costa, sempre tiveram a mesma atitude em relação à forma de estar na Europa e no Euro. Vale a pena lembrar que António Costa, há mais de um ano, no Porto, ainda antes das Primárias, quando declarou formalmente que se candidataria a SG do PS, marcou um ponto essencial quando disse, e cito: “Numa negociação a 28 é difícil prometer resultados, sem o risco de desiludir”. E continuou afirmando que a nossa política é adoptar uma postura negocial activa na Europa. O que se está a passar com a Grécia prova que um país, mesmo que tenha razão, não pode agir sozinho.

Isto significa que o Governo grego falhou?
O povo grego rejeitou em eleições a austeridade excessiva – e nós saudámos o funcionamento da democracia e concordámos com a necessidade de virar a página da austeridade. Mas também sempre afirmámos que na Europa é preciso trabalhar para construir soluções de parceria: não pode ser um contra todos. Por isso, é fundamental fazer propostas, encontrar aliados, preparar o caminho com antecipação, como António Costa tem andado a fazer nas capitais europeias. Ainda a semana passada, em Budapeste, o Partido Socialista Europeu acolheu favoravelmente a nossa abordagem à construção de uma via alternativa à austeridade dentro da Europa.

Esta situação volta a levantar o problema da renegociação da dívida? O FMI referiu essa possibilidade.
António Costa e o PS nunca entraram pelo caminho das falsas evidências ou do simplismo. Mesmo quando estava no auge do interesse mediático a ideia de exigirmos à cabeça a renegociação da dívida (por ocasião do Manifesto dos 74, no ano passado), António Costa recusou sempre que a renegociação da dívida fosse a única e necessária solução. Em alternativa, fixou um triplo objectivo: temos de ter margem para cumprir as obrigações constitucionais com os portugueses, ter margem para estimular o crescimento, investir, e ter margem para pagar a dívida. Mas sem sacrificar nenhuma dessas componentes. O compromisso sempre foi procurar os caminhos para fazer isso, sem rupturas, mas com firmeza.

O cenário macroeconómico do PS trabalhava a partir de pressupostos que estavam determinados pela Comissão Europeia. Os economistas que o elaboraram são apanhados de surpresa no caso de um possível cenário de crise na Europa?
O relatório do grupo dos economistas ao PS, “Uma década para Portugal”, partiu do cenário base, que é o cenário da Comissão Europeia. No entanto, considerou também dois cenários adicionais. Um, é cenário de credibilidade reforçada do projeto europeu – e é para esse que o PS está a trabalhar, com o empenhamento pessoal do Secretário-geral no trabalho com outros países. Outro cenário que foi estudado é o cenário de crise europeia profunda e prolongada – que poderia acontecer em caso de ruptura com a Grécia. Portanto, essa questão foi estudada. O relatório diz mesmo: “seria pouco sério e até irresponsável não considerar os impactos de um cenário que não desejamos, mas cuja possibilidade de materialização não podemos ignorar”. E conclui com o essencial: ” é precisamente este cenário dramático, que importa evitar a todo o custo, que justifica todo o exercício desenvolvido neste relatório de apresentar uma alternativa séria mas credível às políticas que têm vindo a ser implementadas.” Portanto, o PS não fica à espera: o PS trabalha a nível europeu para evitar o pior e procurar o que seria mais favorável a Portugal.