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Socialistas debatem a sua história com os olhos no futuro

Socialistas debatem a sua história com os olhos no futuro

O PS promoveu ontem em Lisboa, a pretexto da reedição de dois textos históricos da autoria de Mário Sottomayor Cardia e António Reis, um debate sobre as suas origens ideológicas e as lutas políticas em que esteve envolvido, privilegiando sobretudo o período pós 25 de abril de 1974. Os dois ensaios que estiveram em análise neste encontro – ‘Por uma Democracia Anticapitalista’ e ‘O Marxismo e a Revolução Portuguesa’, de 1973 e 1979, respetivamente, vão ser agora republicados numa edição conjunta.

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Falar da sua história e dos princípios ideológicos, que marcam a sua origem, foi o pretexto para o encontro que o PS promoveu ontem em Lisboa, privilegiando um olhar mais atento ao período pós 25 de Abril de 1974, um caminho que foi marcado, como defendeu José Leitão, por “uma inspiração teórica marxista e antitotalitária”, tese que é aliás largamente defendida na republicação dos ensaios de dois históricos fundadores e dirigentes socialistas, António Reis e Mário Sottomayor Cardia.

A sessão, na sede nacional, no Largo do Rato, contou com a presença de Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros e também coordenador do Fórum Mário Soares, e com as intervenções e a participação de dirigentes e militantes socialistas, foi aberta pela Secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, tendo ainda usado da palavra o líder da JS, Miguel Costa Matos, e dois fundadores do partido, António Reis e José Leitão.

Os dois ensaios, agora republicados, serviram de base à análise e ao debate, com José Leitão a salientar o contributo de Mário Sottomayor Cardia, antifascista e antigo preso político, que faleceu em novembro de 2006, para a “primeira declaração de princípios do PS”, tendo definido o histórico dirigente socialista como um “homem notável em termos de cultura, coragem física e intelectual”.

Na oportunidade, José Leitão recordou que uma das teses defendidas por Mário Sottomayor Cardia no seu no ensaio de 1973, dois anos depois de ter abandonado o PCP, referia que a “libertação do país exige que se produza uma síntese de várias correntes do socialismo democrático, tanto as que acentuam os aspetos institucionais do Estado como as que acentuam os aspetos institucionais da democracia de base”, acrescentando o histórico dirigente socialista que “a primeira sem a segunda corre o risco de se afastar do povo, enquanto a segunda sem a primeira cai no totalitarismo”.

José Leitão salientou depois que a tese defendida por Mário Sottomayor Cardia de que a “inspiração do marxismo, permanentemente repensado como guia de ação”, se manteve na declaração de princípios do PS após o 25 de Abril de 1974, tendo apenas deixado de ser uma “orientação programática” do partido em 1986, “já sob a liderança de Vítor Constâncio”.

A influência no MFA

Também o historiador António Reis se debruçou sobre o ensaio do jornalista, professor universitário, antigo ministro da Educação nos dois primeiros governos constitucionais liderados por Mário Soares, de 1976 a 1978, e deputado à Assembleia Constituinte, mostrando-se convicto do papel determinante e da influência que este trabalho teve em “alguns dos mais importantes operacionais do Movimento das Forças Armadas (MFA)”.

Quanto ao seu ensaio, ‘O Marxismo e a Revolução Portuguesa’, de 1979, António Reis, que foi também secretário de Estado da Cultura de Mário Soares, disse tratar-se de um estudo onde, entre vários fatores, se “assinalam outras influências ideológicas que estiveram presentes no PS, desde a sua fundação em 1973” na República Federal Alemã, defendendo que o PS surgiu na sua primeira fase pós-25 de Abril “como uma espécie de mosaico vivo de quase toda a esquerda não estalinista e da própria tradição liberal republicana”.

Uma ideia com a qual José Leitão disse concordar, lembrando que a génese do PS, nos primeiros anos do regime democrático sob a liderança de Mário Soares, levou o partido a “combinar várias influências doutrinárias no mesmo espaço da esquerda democrática”, que ajudam a compreender a “dimensão eleitoral que os socialistas atingiram logo nos primeiros anos da democracia”.

José Leitão, que foi o segundo líder da JS, depois de o cargo ter sido ocupado por Arons de Carvalho, lembrou ainda que mesmo durante o chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso) e “apesar da luta anti gonçalvista”, na qual os socialistas tiveram um papel destacado, apareceram em alguns comícios do PS “cartazes onde se lia: PS partido marxista”.

Conciliar liberdade e socialismo

Na abertura do debate, já o Secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, tinha defendido a importância de se “revisitarem as razões pelas quais o socialismo democrático foi a opção consciente e responsável por parte dos dirigentes fundadores”, que souberam, como referiu, “conciliar liberdade e socialismo”, avançando depois para as comemorações dos 50 anos da fundação do PS em Bad Munstereifel, na RFA, que se assinalam já em 2023.

Também para o atual líder da JS, Miguel Costa Matos, não restam dúvidas nem especiais sobressaltos ideológicos de que há “uma inspiração de teor marxista” presente na fundação do PS, não deixando, contudo, de salientar que a marca que caracteriza e melhor define o PS, hoje como sempre, é o seu inegável legado de “pluralismo e de liberdade”.

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