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“Governo português tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso”

“Governo português tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso”

Philippe Legrain, antigo conselheiro económico de Durão Barroso na Comissão Europeia, considera que o programa de austeridade desenhado pela troica e entusiasticamente implementado pelo governo português teve um resultado desastroso. Em entrevista ao Público, o economista britânico defende que a Europa precisa de “uma Primavera europeia de renovação económica e política”.
“Governo português tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso”

Um programa falhado e de consequências desastrosas. É deste modo que o antigo conselheiro de Durão Barroso classifica o programa de austeridade aplicado em Portugal, “dentro das limitações políticas definidas pela Alemanha” e que o governo português abraçou tentando ser “mais alemão do que os alemães”. De acordo com o economista, Portugal foi sujeito “a uma longa e desnecessária depressão, da qual ainda não recuperou”. E que teve a consequência “perversa” de aumentar a dívida pública a um nível que ultrapassa o produto interno do país.

Na análise que faz ao estado da economia portuguesa, Legrain considera que o país tem beneficiado de “fatores externos positivos”, destacando as políticas de quantitative easing implementadas pelo BCE, a descida do preço do petróleo e um nível de austeridade menor, que muito deve ao travão imposto pelo Tribunal Constitucional a algumas medidas do atual Governo. Mas o retrato que traça é demolidor: a economia está mais pequena do que em 2002 e ao ritmo atual só em 2020 voltará ao nível de 2008, as dívidas de famílias e empresas são insuportavelmente altas, os salários caíram, a pobreza aumentou, o desemprego continua altíssimo, muitos portugueses emigraram, o mercado de trabalho reduziu-se em 20%. “Portugal ainda está num buraco fundo”, afirma. “Devia estar a aproximar-se dos mais ricos através de mais investimento e aumentando a produtividade. Em vez disso, está a posicionar-se para ser ultrapassado pela Polónia e outros. É trágico”.

“A Europa precisa de uma Primavera de renovação económica e financeira”

Muito crítico das políticas levadas a cabo pelas autoridades da zona euro, bem como da narrativa alemã sobre a atribuição da responsabilidade da crise aos países da Europa do Sul, que considera ser “falsa”, o economista defende ser preciso uma “Primavera Europeia de renovação económica e política”. A Europa, explica Legrain, necessita de “resolver de uma vez por todas a crise de forma decisiva e justa, reduzindo as dívidas insuportáveis e aumentando o investimento”. Reformas que visem tornar as economias europeias “mais dinâmicas, focando-se no aumento da produtividade e nos padrões de vida, e não no corte salários”, são também defendidas pelo economista britânico.

“Precisamos de políticas muito mais abertas e honestas, que antecipem o interesse público em vez dos interesses particulares”, como o do sector financeiro. “E que permitam às pessoas legitimar escolhas democráticas sobre questões cruciais como a tributação e a despesa”, disse ainda o antigo conselheiro de Durão Barroso.