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Direita americana à beira de um motim

Direita americana à beira de um motim

A provável nomeação, cada vez mais real, de Donald Trump para corrida presidencial de novembro próximo está a deixar a direita conservadora norte-americana no limiar de uma cisão. Muitos dos “falcões” republicanos não escondem o desconforto com a agenda externa de Trump e começam a admitir abertamente o voto em Hillary Clinton: “Seria, por larga margem, o mal menor”.
Direita americana à beira de um motim

Mais do que as questões de política económica, são os pilares tradicionais da política externa republicana que estão a ser abalados pelo discurso de Trump. A visão crítica do candidato sobre os fundamentos da intervenção no Iraque, o desprendimento perante a posição estratégica de Israel – um valor “não negociável” para a doutrina conservadora – ou a admiração manifestada por Vladimir Putin, estão a deixar os líderes republicanos em estado de choque. 

“A eleição de Trump seria um desastre para a política externa americana”, afirma Eliot Cohen, antigo alto funcionário do departamento de Estado, na presidência de George W. Bush. E sem poupar nas palavras, acrescenta: “Ele [Trump] já a prejudicou significativamente”.

Cohen foi um dos promotores de uma carta aberta subscrita por dezenas de especialistas em política externa do partido Republicano, entre os quais vários antigos altos funcionários e colaboradores de administrações republicanas, publicada esta semana.

“Não podemos apoiar uma candidatura presidencial que seja encabeçada pelo sr. Trump”, é afirmado na carta, que faz menção, entre outras coisas, à admiração do candidato por “ditadores estrangeiros” ou ao seu “indesculpável apoio ao uso alargado da tortura”.  

Mas o desconforto não se cinge apenas às questões de política externa. Robert Kagan, outra das vozes mais influentes nos círculos republicanos, vai mais além e diz mesmo que “ninguém percebe qual é a política externa de Trump”, explicando que o que está em causa é “a saúde e a segurança da democracia americana”.

“A única escolha será votar em Hillary Clinton,” afirmou. “O partido [Republicano] não pode ser salvo, mas o país ainda o poderá ser”.

Hillary Clinton, depois de assimilar o desafio Bernie Sanders, tem razões para sorrir.