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Entrevista de Ana Catarina Mendes ao jornal Expresso

Entrevista de Ana Catarina Mendes ao jornal Expresso

Secretária-geral adjunta do PS está confiante de que os autarcas do partido eleitos sem maioria absoluta vão ser capazes de “encontrar soluções de governabilidade”. Perda de maioria absoluta em Lisboa e ‘ameaça’ da CDU sobre rejeição de geringonças locais não preocupa. Medina iniciou ontem contactos informais com o Bloco de Esquerda para “levantamento exploratório de questões programáticas para o governo da cidade”

Ana Catarina Mendes diz que é “uma otimista prudente” e assume que as 165 câmaras conquistadas pelo PS “superaram claramente as expectativas” com que o PS partia para as eleições autárquicas

In Expresso

O PS está convicto de que os autarcas eleitos pelo partidos sem maioria absoluta nas eleições do passado domingo vão conseguir encontrar soluções que garantam a governabilidade em cada concelho. A posição é assumida pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, numa entrevista ao Expresso — que será publicada na edição deste sábado do semanário — e onde manifestou a sua confiança de que em Lisboa, por exemplo, a perda de maioria absoluta não será um problema. “Com a excelência de autarca que tem sido e com a sua competência e inteligências, Fernando Medina saberá encontrar uma solução”, defendeu

Recusando a ideia de que a perda de maioria absoluta em Lisboa signifique uma derrota para Medina, Ana Catarina Mendes recorda que “numa primeira candidatura pelo PS, como foi esta de Fernando Medina, este foi o melhor resultado do PS, mesmo comparando com a primeira candidatura de António Costa a Lisboa”. “Aliás, preocupante não é a não existência de maioria absoluta em Lisboa, no contexto de uma grande vitória do PS. Preocupante é mesmo o estado a que chegou o PSD a nível nacional, que permitiu que o CDS tivesse, em Lisboa, um resultado irrepetível”, defendeu.

As palavras de Ana Catarina Mendes foram proferidas na quarta-feira. E no dia seguinte Fernando Medina colocou em marcha a procura dessas referidas soluções, com a realização de um primeiro “encontro informal” com uma delegação do Bloco de Esquerda — composta pelo vereador eleito Ricardo Robles e pela candidata à Assembleia Municipal Isabel Pires — para abordar a possibilidade de eventuais acordos. O encontro foi confirmado pelo Bloco de Esquerda esta sexta-feira à tarde, através de uma nota enviada às redações, na qual os bloquistas deram conta do “levantamento exploratório das questões programáticas que importam para o governo da cidade”.

Nessa nota, o BE diz ter reafirmado “a disponibilidade transmitida na campanha eleitoral para uma viragem política que, entre outras áreas programáticas, inclua a construção de creches municipais, o resgate da taxa do turismo, a recuperação dos transportes públicos ou a concretização de programas de habitação que protejam as famílias contra despejos abusivos e substituam a PPP prevista por um programa de habitação integralmente público”.

As conversações, que “continuarão nas próximas semanas”, refletem aquilo que Ana Catarina Mendes antecipava já como uma “demonstração de grande capacidade de diálogo e abertura”, na linha do que “o PS demonstrou ao longo dos últimos dois anos”. “Nós abrimo-nos à sociedade e em momentos como estes sabemos também que há diálogos que temos de ter, sem nunca fugir à identidade do PS e dos seus projetos”, defendeu, rejeitando a existência de eventuais problemas decorrentes da indisponibilidade manifestada pelo PCP para replicar ‘geringonças’ locais. “Não devemos encontrar nem fantasmas nem dramas porque vão ser encontradas soluções de governabilidade”, insistiu.

Uma situação que espera, de resto, ver também alcançada em Almada, onde o PS conseguiu pela primeira vez desde 1976 ‘roubar’ a câmara à CDU. Uma vitória que a própria candidata Inês de Medeiros considerou, num primeiro momento, “surpreendente”, e que levou numa primeira reação o presidente cessante comunista Joaquim Judas a defender que o PS não estaria preparado para assumir a presidência daquela autarquia. Ora, tendo em conta que o PS só tem quatro mandatos — tantos como a CDU, enquanto o PSD tem dois e o BE um — poderá isso ser um problema para os socialistas?

“Estou certa que Joaquim Judas, com a inteligência que demonstrou ao longo do seu mandato, saberá também encontrar com o PS as soluções melhores para o concelho. Estou certa que não quer uma situação de ingovernabilidade em Almada”, defende Ana Catarina Mendes, recordando que Almada é precisamente o seu concelho e onde começou a sua vida partidária. “Há muito que trabalhávamos para ganhar esta câmara, apresentamo-nos para ganhar e ganhamos. Agora, ao trabalho para uma cidade mais desenvolvida”, pede.

A vitória em Almada foi, aliás, uma das que contribuíram para que o PS obtivesse uma “vitória histórica” nas autárquicas de 1 de Outubro, com a conquista de 159 câmaras em listas do PS, mais duas em coligação e quatro através de movimentos apoiados pelos socialistas. Um resultado ainda mais assinalável pelo facto de o PS ter, assim, conseguido bater o resultado de 2013, que era o seu melhor de sempre. Uma surpresa? “Costumo dizer que sou uma otimista prudente. E acho que superámos claramente as nossas expectativas. Tínhamos tido o melhor resultado de sempre com 150 câmaras em 2013 e portanto ganhar mais era um objetivo difícil. Mas os nossos candidatos estiveram à altura e o PS, enquanto Governo e partido, também esteve à altura do desafio”.