Cidadão exemplar, jurista eminente, resistente à ditadura, político que ocupou, em democracia, cargos de enorme relevância, tudo o que Salgado Zenha fez ficou marcado pela coragem e a lucidez, pelo talento e o amor à liberdade.
Antes do 25 de Abril, lutou, desde muito jovem, pela democracia e contra o autoritarismo. Foi, em 1944, o primeiro aluno a ser eleito Presidente da Associação Académica de Coimbra, sendo demitido no ano seguinte por a Associação se ter recusado a acompanhar o reitor da Universidade numa visita de apoio e agradecimento a Salazar. Durante os anos da ditadura, foi perseguido, preso e censurado. Defendeu presos políticos com invulgar destemor e espírito de solidariedade antifascista.
Era o amigo mais próximo e fraterno de Mário Soares e essa amizade foi plena de potencialidades e consequências políticas. A luta dos dois pela existência de um Partido Socialista forte e prestigiado foi fundamental e merece o nosso perene reconhecimento.
Logo depois do 25 de Abril, Zenha foi ministro da Justiça e, nessa qualidade, procedeu à revisão da Concordata com a Santa Sé, pondo fim à inaceitável disposição que impedia que alguém casado pela Igreja Católica se pudesse divorciar e voltar a casar civilmente, com consequências dramáticas para a vida de muitas pessoas e famílias.
Durante a Revolução, a sua voz firme e clara fez-se ouvir constantemente em defesa da democracia e contra a tentação totalitária que então nos ameaçou. As suas intervenções no comício do PS contra a unicidade sindical, ou a exigir eleições livres para a Assembleia Constituinte, ou em defesa da legalidade democrática, durante o VI Governo Provisório, de que era ministro das Finanças, pertencem à memória colectiva e ao património democrático português. Eram os tempos em que o povo repetia nas ruas “ Soares e Zenha não há quem os detenha”.
Depois das eleições legislativas de 1976, ganhas pelos socialistas, e da constituição do I Governo Constitucional, a sua actuação como líder parlamentar do PS foi decisiva e marcada pelo brilho oratório e pela acutilância política.
Em 1985, depois de um longo período de divergências internas, Salgado Zenha deixou o PS para se candidatar à Presidência da República, nas eleições que Mário Soares venceu. E foi o Presidente Soares que, no dia 10 de Junho de 1990, na sua terra Natal , em Braga, condecorou, com justo reconhecimento, Salgado Zenha com a Grã Cruz da Ordem da Liberdade.
Apesar das vicissitudes que levaram à sua saída do PS, Zenha manteve-se sempre fiel às suas convicções e ideais: continuou a ser socialista e permaneceu como uma grande referência para todos os socialistas.
Neste dia em que assinalamos o centenário do seu nascimento e na altura em que comemoramos os 50 anos da fundação do PS, prestamos homenagem a Francisco Salgado Zenha e apontamos a sua vida de intrépido lutador pela liberdade e pelo socialismo democrático como um modelo a enaltecer e um exemplo a seguir.
2 de Maio de 2023
O Partido Socialista
A Comissão Organizadora das Comemorações dos 50 anos do PS