home

Quem faz política com seriedade não pode aproveitar uma fuga grave de reclusos para debater tema da segurança

Quem faz política com seriedade não pode aproveitar uma fuga grave de reclusos para debater tema da segurança

A deputada do PS Isabel Moreira lamentou que haja quem aproveite a fuga dos reclusos do Estabelecimento Prisional do Vale de Judeus para debater o tema da segurança das populações, algo que considera “pouco sério”.

Publicado por:

Acção socialista

Ação Socialista

Órgão Nacional de Imprensa

O «Ação Socialista» é o jornal oficial do Partido Socialista, cuja direção responde perante a Comissão Nacional. Criado em 30 de novembro de 1978, ...

Ver mais

Notícia publicada por:

A coordenadora dos socialistas na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias vincou, durante o debate pedido pelo Chega sobre o estado dos Estabelecimentos Prisionais, esta quarta-feira, que “não pode, quem faz política com seriedade”, aproveitar a fuga dos cinco reclusos “para debater a partir dele o tema da segurança em modo pouco sério, como se agora estivesse em causa a segurança das populações”.

“Quem faz política com seriedade sabe que a nossa taxa de fuga de reclusos é cinco vezes inferior à da União da Europeia”, sublinhou Isabel Moreira, que defendeu que “seria bom” que se refletisse mais “sobre o que vários relatórios internacionais dizem sobre o nosso sistema prisional”. “Ele é mau, em muitos aspetos, para os reclusos, mas esse debate não rende votos, apesar de ser o debate que testa o nosso apego à dignidade”, comentou a socialista, numa crítica à direita.

Sobre o rácio entre reclusos e guardas prisionais, a deputada do PS referiu que é de 3,1 no nosso país, ou seja, “melhor do que os 3,8 da União Europeia”, estando à frente de Espanha, França ou Inglaterra.

Já a pena média efetiva em Portugal é de 28 meses, enquanto na UE é de 11, indicou Isabel Moreira, esclarecendo que “prendemos muito e por muito tempo”, já que “56% dos reclusos cumprem mais de cinco anos de pena, enquanto na UE são 34,5%”.

Para a socialista, “uma coisa é certa: a questão da segurança prisional é uma questão ampla e não encontra solução boa na reconstrução das torres de vigilância ou na eletrificação da rede de arame farpado”.

Ora, “quem assim pensar, está a pensar no rescaldo de uma fuga e não na serenidade da razão, dos factos e do que são, efetivamente, os problemas do nosso sistema prisional”, disse.

Segurança e ressocialização são os dois pilares do sistema prisional

Também a deputada Cláudia Santos criticou o agendamento do Chega, por querer “fazer-nos crer que a única causa da fuga está em falhas estruturais da cadeia imputáveis aos governos anteriores, apesar de não ter havido nenhuma fuga como esta nos oito anos anteriores”.

A própria ministra da Justiça “referiu-se a ‘desleixo’, ‘irresponsabilidade’, ‘falhas grosseiras’ e estas não são palavras que se costumem aplicar a insuficiências estruturais”, notou.

A vice-presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias deixou algumas questões à ministra da tutela: “Se, três dias depois da fuga, já havia indícios de desleixo e irresponsabilidade individuais, por que anunciou a senhora ministra que não hesitaria em desencadear os processos criminais e disciplinares que se mostrassem necessários, mas não os tinha ainda desencadeado? E perguntamos, mais de uma semana e meia depois da evasão, se esses processos já foram desencadeados”.

Cláudia Santos quer também saber o motivo de a ministra da Justiça ter sido informada tão tarde, bem como a Polícia Judiciária, “quando todos os minutos teriam sido essenciais para a captura”.

“O segundo problema deste agendamento do Chega é bastante mais profundo, porque faz supor que a única dimensão das cadeias que interessa é a segurança”, lamentou a socialista, explicando que “é apenas um dos dois pilares do sistema prisional”, sendo “o outro a ressocialização, que implica a humanidade do sistema”.

“Mas desse investimento não quer a direita saber e foi isso que tornou o debate sobre as prisões sempre tão difícil. Para a direita, as cadeias são depósitos de pessoas que não interessam”, criticou Cláudia Santos.

ARTIGOS RELACIONADOS