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“Poucos exprimiram tão bem a alma dos socialistas”

“Poucos exprimiram tão bem a alma dos socialistas”

“Poucos exprimiram tão bem a alma dos socialistas”

O Secretário-geral do PS, António Costa, evocou a memória de Jorge Coelho, falecido esta quarta-feira, vítima de paragem cardíaca fulminante, considerando que o antigo governante e dirigente socialista será recordado como “um cidadão dedicado ao seu país, que serviu com grande dignidade o Governo da República” e que poucos como ele “conseguiram exprimir tão bem a alma dos socialistas”.

“No PS, estamos todos naturalmente em choque com o falecimento surpreendente do doutor Jorge Coelho”, disse António Costa, numa declaração na sede nacional do partido, em Lisboa, ao fim da tarde de ontem.

“Os portugueses recordarão seguramente Jorge Coelho como um cidadão dedicado ao seu país, que serviu com grande dignidade o Governo da República que deixou há 20 anos num momento trágico em que decidiu assumir pessoalmente a responsabilidade politica por uma tragédia imensa”, disse o também primeiro-ministro, numa alusão à queda da ponte de Entre-os-Rios, em 2001, quando Jorge Coelho tutelava a pasta da Obras Públicas no segundo executivo chefiado por António Guterres.

Lembrando que Jorge Coelho continuou a servir Portugal ao investir na sua terra, em Mangualde, onde abriu uma queijaria e promoveu um dos produtos mais importantes da região, António Costa destacou, sobretudo, o seu percurso no Partido Socialista.

“Para todos os socialistas é um momento particularmente doloroso porque o Jorge Coelho não era só um camarada, era um amigo de todos nós e um amigo de todas as gerações do partido socialista. Poucos foram aqueles que conseguiram exprimir tão bem a alma dos socialistas”, afirmou.

António Costa salientou também o papel de Jorge Coelho na direção liderada por António Guterres a partir de 1992, quando o PS estava na oposição ao segundo governo de maioria absoluta do PSD de Cavaco Silva.

“Todos recordaremos Jorge Coelho como aquele que sempre soube interpretar, com uma intuição extraordinária, o sentimento do cidadão comum, dando expressão à alma socialista. Nos anos duros de oposição, na década de 90, foi uma força da natureza que ajudou a reerguer o PS. Foi uma espécie de braço-direito de António Guterres na construção da alternativa em 1995”, recordou.

“Jorge Coelho foi símbolo de energia, força, capacidade de ação nos momentos mais difíceis que vivemos, mas também era quem transmitia uma palavra de serenidade nos momentos de exaltação. Jorge Coelho foi sempre um fator de unidade entre todos nós nos momentos em que as divisões nos atravessaram”, lembrou ainda António Costa.

“É por isso um amigo, um camarada que todos perdemos e que iremos chorar cada um por si. Não o vamos poder expressar como gostaríamos neste momento em que a pandemia nos impõe contenção, mas encontraremos, uma vez passada esta situação, a devida forma de prestar homenagem àquele que era seguramente um dos mais queridos de todos nós”, afirmou.

Nota de Pesar do Partido Socialista

Foi com particular pesar e aguda tristeza que o Partido Socialista recebeu a dolorosa notícia do inesperado falecimento do seu Camarada Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho. Histórico socialista e notável amigo da democracia, soube de forma singular traduzir na sua atuação a proximidade ao cidadão comum, cujos anseios e emoções sabia interpretar como poucos governantes o conseguiram.

Deixa-nos um legado político de diversidade e de dedicação inigualáveis, tendo atingido inclusivamente a alta dignidade de Conselheiro de Estado. Nasceu em Viseu (1954) e filiou-se no Partido Socialista em 1982, tendo nesse mesmo ano iniciado o seu percurso de desempenho de funções executivas como chefe do gabinete do Secretário de Estado dos Transportes do IX Governo Constitucional. Em seguida, em Macau, foi chefe do gabinete do Secretário de Estado Adjunto dos Assuntos Sociais, Educação e Juventude de Macau (1988-1989) e, já em funções governativas na mesma região, desempenhou o cargo de Secretário Adjunto para a Educação e Administração Pública (1989-1991).

De regresso a Portugal, foi fundamental na delineação e arquitetura de várias campanhas eleitorais do Partido Socialista, tendo dirigido a estrutura que assegurou a campanha eleitoral vitoriosa do PS nas eleições Legislativas de 1 de outubro de 1995 e nas eleições Legislativas seguintes, em 10 de outubro de 1999. Ficará para sempre como o homem do coração socialista e como alguém que soube de forma exemplar materializar o espírito e a alma do socialismo. Para a grande família socialista, fica como o dirigente que, num mar de mudança, personificava a serenidade, a força e a capacidade de ação e que, simultaneamente, em momentos de divisão, era uma âncora de união.

No primeiro executivo da nova maioria, foi ministro-adjunto de António Guterres, tendo, dois anos mais tarde, em novembro de 1997, acumulado esse cargo com o de ministro da Administração Interna. Como Ministro-Adjunto, é de destacar a criação das Lojas do Cidadão. Em conjunto com o seu secretário de Estado da Administração Pública, Fausto Correia, lança em Portugal o conceito de Loja do Cidadão, enquanto interface e centro de atendimento de várias entidades públicas, agregando e ligando serviços num só espaço. Após as eleições legislativas de 1999, que viriam a reconduzir António Guterres como chefe do Governo, Jorge Coelho assumiu as pastas da Presidência e das Obras Públicas, tendo sido titular, em setembro de 2000, da pasta de ministro de Estado e das Obras Públicas.

A 4 de março de 2001, voltaria a deixar a sua assinatura na cultura política e democrática portuguesa, ao assumir, demitindo-se, a responsabilidade política plena pela queda da ponte de Entre-os-Rios. A sua frase “Não ficaria bem com a minha consciência se não o fizesse”, seguida do anúncio da abertura de um inquérito ao sucedido, constituiu um precedente de coerência para todos os titulares de funções executivas que se lhe seguiram e perdurará na moldura executiva como traço de dignidade e de respeito pelas vítimas.

Fazendo uso da sua jovialidade, carisma e capacidade de mobilização, voltou a ser decisivo na campanha socialista de 2005, em que, pela primeira vez, com José Sócrates, o Partido Socialista alcançou uma maioria absoluta em eleições legislativas. Em novembro de 2006, renunciou ao mandato de deputado e abandonou todos os cargos partidários para se dedicar à docência, à consultoria, à atividade empresarial e ao comentário político. Foi, até 2013, presença constante no programa ‘Quadratura do Círculo’ da SIC Notícias, onde demonstrou como é possível fazer valer ideias através da afabilidade, do humor, da perspicácia e da amizade além da barreira partidária, renunciando sempre ao ataque pessoal e privilegiando o debate ideológico salutar.

À Família enlutada, o Partido Socialista endereça as mais sentidas condolências e solidariedade neste momento de sofrimento, assegurando-lhes a consciência da responsabilidade de honrar o seu legado. O Camarada Jorge Coelho deixa-nos a memória da materialização dos valores socialistas e da dedicação à causa política e pública. A sua partida traz à sua outra família, a socialista, a dolorosa perda de umas das suas mais sólidas raízes.