Como convencer as empresas a criar mais emprego, como fixar pessoas a Portalegre, como seduzir quem partiu a voltar, como criar novas casas e como revolucionar a oferta cultural e a educação. A todos esses temas, Luís Moreira Testa, 43 anos, dá resposta.
Luís Osório – Porque é importante ser presidente da Câmara Municipal de Portalegre?
Luís Moreira Testa – Portalegre precisa de um novo rumo, de uma estratégia. Não é que as pessoas não tenham feito até agora o possível, mas o possível tornou-se insuficiente. Numa altura em que o mundo se globalizou, os desafios são cada vez maiores para os territórios do interior que vivem um inverno demográfico. É importante por isso ter uma nova ambição, um novo objetivo e uma estratégia de futuro.
LO – Considera então que os últimos anos em Portalegre foram anos perdidos?
LT – Não tenho o objetivo de julgar os últimos quatro ou vinte anos. O meu objetivo é propor um novo programa com novas ideias, é isso que proponho à população de Portalegre.
LO – Vamos falar do futuro. O que mudará em Portalegre se ganhar as eleições?
LMT – Destaco o emprego, a habitação e a atividade. São três ideias chaves que podem ser corporizadas com medidas objetivas.
LO – Vamos ao emprego.
LMT – Queremos fixar a população mais jovem. Ajudar os estudantes que frequentam o Politécnico de Portalegre no sentido de escolherem Portalegre para viver. E voltar a trazer as pessoas que saíram da cidade para estudar, desejamos criar as condições para que possam regressar e constituir família. Repare, Portalegre é uma cidade na sua génese industrial.
LO – Que foi abandonando.
LMT – Que foi abandonando. E lá está, quando vamos contra a nossa genética normalmente dá mau resultado. Não é por acaso que as unidades industriais que funcionam em Portalegre, a maioria que pertencem a grupos económicos com expressão, têm aqui tão bons resultados e são tão rentáveis.
LO – Qual é o motivo?
LMT – É que as pessoas de Portalegre têm um conhecimento de experiência feita, gerações e gerações a trabalhar na Indústria. Esse é provavelmente que poderíamos apresentar e temos de o capitalizar.
LO – Como capitalizar então?
LMT – A forma de capitalizar é a constituição de fileiras. Perceber em primeiro lugar quem são os fornecedores e clientes das unidades industriais e convencê-los, com argumentos muito pragmáticos, a aprofundarem o seu investimento.
LO – O que propõe é que seja o próprio presidente de câmara a fazer esse trabalho de angariação de novos investimentos.
LMT – Já faço isso enquanto deputado. Mesmo sem os meios de uma autarquia e sem a capacidade de dispor sobre terrenos para que essas unidades se instalarem. Tenho falado com o AICEP, com a secretaria de Estado da Internacionalização e com unidades industriais que já existem em Portalegre. É uma aposta certa e que tem de ser aprofundada nos próximos anos.
LO – Não há muito desemprego em Portalegre.
LMT – Não há muito desemprego em Portalegre, mas a questão central não é essa. Portalegre é uma cidade de serviços e não tem muito desemprego por termos vindo a perder população que logicamente procura encontrar um melhor futuro. A questão passa por recuperar pessoas para Portalegre.
LO – Até pela perda de população.
LMT – Ao nível da sustentabilidade demográfica, a quantidade de pessoas em idade reprodutiva já é suficiente para nos mantermos. Temos de trazer pessoas para Portalegre e para isso temos que lhes oferecer emprego.
LO – E habitação.
LMT – E habitação, o segundo vetor essencial. As pessoas têm de regressar com a garantia de ter melhor qualidade de vida. Muitas vezes os municípios só olham para a habitação social – que também é necessária – , mas o papel de um município deve ser mais abrangente. Devemos ter a capacidade de unir esforços, atraindo também os privados, para nos ajudarem a construir casas para jovens famílias se estabelecerem, única forma de as fixar na cidade. Esse é o segundo eixo.
LO – E o terceiro?
LMT – Temos de ter oferta desportiva e cultural. As novas gerações são ávidas de atividade, a vida tem de ser um corrupio. Obrigatório dinamizarmos associações e novos públicos, temos de colocar a cidade a funcionar em rede, temos de abrir a porta a uma nova era, precisamos de criar uma dinâmica.
LO – Até porque as pessoas depois da pandemia estão ávidas de viver.
LMT – Claro. E é por aí que temos de ir.
LO – Pensava que me fosse falar da educação, já ouvi quem definisse o seu projeto para a educação como revolucionário.
LMT – Pretendo abrir a escola à sociedade civil e ao movimento associativo. Colocar o movimento associativo a organizar as atividades extracurriculares, integrar as filarmónicas ou o conservatório no ensino da música, só para lhe dar um exemplo. É uma forma de qualificarmos o ensino nas várias vertentes temáticas, de o abrirmos a crianças desde tenra idade. E ao mesmo tempo sensibilizar as crianças para serem no futuro consumidoras de cultura e conhecimento e possibilitar que adiram ao movimento associativo desde tenra idade. Isso permitirá uma interação geracional e uma interação entre as escolas e o movimento associativo. E pretendo também que a escola digital se mantenha mesmo com o ensino presencial. O manuseamento das novas tecnologias é fundamental e deve ser apreendido desde logo no ensino básico.
LO – O objetivo passa por ligar todos os vértices.
LMT – É isso. Emprego, habitação, atividade e a educação que tudo sustenta. Quando queremos um concelho dinâmico do ponto de vista industrial temos de ter crianças a apreender este novo mundo.
LO – Reparei que não foi nada agressivo no modo como se expressou em relação à atual presidente de câmara.
LMT – Para mim a política é elevação. Sentimos que em Portalegre as pessoas estão divididas e quase zangadas umas com as outras. Eu não posso contribuir para a continuidade desse espírito entre as pessoas da minha terra. Quero ser um elemento aglutinador, quero mobilizar os cidadãos, mobilizá-los em torno de uma estratégia para dez anos. Haverá confronto político, mas não contem comigo para dividir mais, contem comigo para somar.
LO – Dentro de dez anos, imaginando-o presidente nos próximos dois mandatos, de que Portalegre estaremos a falar?
LMT – Uma cidade cosmopolita, moderna, dinâmica, integradora, uma cidade média da Península Ibérica com a capacidade de atrair pessoas e ideias. Uma cidade vibrante, polarizadora, que contemple tradições e futuro, uma cidade feita há medida dos nossos sonhos.
LO – Convença-me a ir para a sua Portalegre.
LMT – Hoje ou daqui a dez anos?
LO – Já hoje.
LMT – Somos o melhor destino na inspiração. Logo à partida a inspiração gastronómica, come-se melhor do que em qualquer outro lugar, os nossos vinhos são os melhores do mundo e temos as tapeçarias de Portalegre, um símbolo que não pode ser esquecido.
LO – E as pessoas de Portalegre?
LMT – São absolutamente encantadoras. E são elas que têm mantido a cidade, os meus conterrâneos serão imprescindíveis para o movimento que pretendo implantar.