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“Não pode valer tudo em política”

“Não pode valer tudo em política”

A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ontem, em comunicado, o registo oficial pelas autoridades competentes das 64 vítimas mortais nos incêndios de Pedrógão Grande, fazendo acompanhar o esclarecimento com a divulgação da respetiva lista nominal.
RESPONSABILIDADE

O esclarecimento da PGR vem assim por termo à proliferação de informação falsa e especulativa a que se assistiu nos últimos dias, em torno do número de vítimas de uma tragédia humana de grande dimensão nacional, e que alimentou, como assinalou a Secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, “um inaceitável aproveitamento político e partidário” por parte de PSD e CDS.

A dirigente socialista, que falou em conferência de imprensa poucas horas antes de ser divulgado o comunicado da PGR, condenou “veementemente” a forma como os partidos da direita, e o PSD em particular, tentaram explorar a tragédia que afetou e ainda afeta a região de Pedrógão, ao lançarem a insinuação de que o Governo estaria a tentar esconder o número de vítimas e fazendo mesmo um ultimato para que fosse violado o segredo de justiça.

“É intolerável e significa que o PSD atingiu o grau zero do seu sentido de Estado”, afirmou Ana Catarina Mendes, lançando o desafio aos dois partidos da direita para que apresentem “pública e rapidamente” prova do comportamento que quiseram imputar ao Governo e repudiando “a indignidade” de se achar que a tragédia humana vivida pelas famílias atingidas seria maior ou menor em função da discussão sobre o número de mortos.

“Caso contrário, não é admissível dar azo à especulação e à insegurança, que, afinal, é o único objetivo de toda esta lamentável encenação política. Não vale tudo, não pode valer tudo em política”, frisou a Secretária-geral adjunta do PS.

Numa alusão à controvérsia em torno da divulgação da lista de vítimas, a mesma que a PGR viria a revelar poucas horas depois, Ana Catarina Mendes sublinhou que “a justiça está a fazer o seu trabalho” e que “este é o tempo para deixar trabalhar as entidades competentes”.

“O PS entende que toda a vida humana é um valor absoluto. O PSD e CDS-PP estão sem rumo e tomados pelo mais absoluto populismo. Na sua desesperada tentativa de conquistar votos, ou fazer aproveitamento político, não hesitam em procurar semear a desconfiança dos cidadãos nas instituições do Estado de Direito democrático, levando tudo o que aparecer à frente, como se tem visto nos últimos dias e últimas semanas: A Proteção Civil, as Forças Armadas e agora a Justiça”, sustentou a dirigente socialista.

Número de vítimas confirmado de acordo com apuramento oficial

No comunicado ontem divulgado ao final do dia, a PGR confirmou a existência de 64 vítimas mortais em resultado dos incêndios de Pedrógão Grande, “cuja identidade se considera poder, agora, ser publicitada com segurança e sem perturbação da investigação”.

Indica ainda a PGR que esta confirmação surge após a inquirição de uma testemunha “que tem vindo a alegar publicamente ter conhecimento da identidade de vítimas mortais não sinalizadas pelas autoridades”, tendo apurado que lista apresentada pela referida testemunha revelava “a existência de diversas imprecisões” de identificação, “bem como repetição de nomes”.

Concluiu-se, assim, pela coincidência entre os nomes das 64 vítimas mortais já identificadas no inquérito e os constantes da lista publicitada pela testemunha, com a salvaguarda de duas exceções, que se encontram a ser averiguadas: uma vítima de atropelamento e a uma outra pessoa cuja causa de morte não está, até ao momento, sinalizada como diretamente relacionada com os incêndios.

A PGR renovou ainda o “apelo para que todos os que tenham conhecimento de quaisquer factos relacionados com os incêndios de Pedrógão Grande os transmitam ao Ministério Público”, ao encontro, aliás, de idêntico apelo já enunciado publicamente pelo primeiro-ministro, António Costa.