Há uma grande confiança que o ano de 2023 seja o melhor ano de sempre no turismo.
O Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços acredita que este ano o turismo vai voltar a bater recordes. Nuno Fazenda faz o balanço da atividade governativa numa área determinante para a economia do país, apresenta as iniciativas que estão a ser implementadas para a sua diversificação, além de fazer o ponto de situação sobre as medidas implementadas para fazer face ao aumento da inflação e o seu impacto no bolso dos portugueses.
Nuno Sá Lourenço: Bom dia e bem-vindos a mais uma edição do podcast de Política com Palavra. Esta semana temos connosco Nuno Fazenda, Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços. Ao mesmo tempo que trabalha nas medidas que combatem o aumento dos preços, tal como o Pacto para a Redução dos Preços, Nuno Fazenda trabalha também na promoção do turismo português, não só no país como internacionalmente. Nuno Fazenda, muito obrigado por ter aceitado o nosso convite. O Governo já assinou há algum tempo o chamado Pacto para a Redução dos Preços, com os produtores e os distribuidores. Já é possível fazer um ponto de situação sobre os resultados das medidas que foram acordadas?
Nuno Fazenda: Antes de mais, muito obrigado pelo convite. É um enorme gosto estar aqui em conversa consigo. Relativamente ao Pacto, ele tem estado a ser implementado, resulta de um acordo entre o Governo, a distribuição e a produção. E a verdade é que o balanço é hoje positivo.
É hoje positivo porque, de acordo com a avaliação que tem vindo a ser feita, quer pela ASAE, quer pelas associações de defesa do consumidor, se tem registado uma redução acima dos 6% face ao cabaz alimentar que foi identificado.
Por isso, o balanço que fazemos é positivo. Tem vindo a ser feito um acompanhamento e uma monitorização. Verificamos também que por parte dos operadores tem havido o esforço de apresentar os valores com transparência, aquilo que é o valor do preço do bem e com a aplicação do desconto do IVA Zero e por isso, sim, o balanço é positivo. Este é um esforço que não só resulta desta redução do IVA para zero neste cabaz para bens alimentares mas a que se somam os apoios muito relevantes que o Governo mobilizou de apoio às famílias, mas também agora os que estão a ser mobilizados para a produção. E é através da conjugação destes fatores que estamos a fazer o esforço para contribuir para uma redução da inflação dos preços dos bens alimentares.
NSL: Esteve recentemente também nos Estados Unidos, mudando para a área do turismo. Porquê essa visita aos Estados Unidos nesta altura?
NF: Esta visita tem que ver com um mercado, que é muito importante para o país.
Os Estados Unidos são já hoje o quarto mercado mais importante em termos turísticos.
NSL: Essa é uma evolução relativamente recente?
NF: É um mercado que tem vindo a crescer. É o mercado com mais crescimento nos últimos anos, em 2022 cresceu cerca de 27% em dormidas e 51% em receitas. É um mercado com muita relevância do ponto de vista turístico. É um mercado ainda com muito potencial, nós temos cerca de 165 ligações diretas entre os Estados Unidos e Portugal e há uma grande margem de crescimento a esse nível. E estivemos lá para marcar presença num evento de grande prestígio que é o Financial Times Weekend Festival, onde Portugal foi o país convidado e onde pudemos dar a conhecer também a nossa oferta turística. Houve, aliás, uma prova de vinhos comentada por Jancis Robinson, que é uma referência mundial na área dos vinhos, onde não só deu conta dos vinhos portugueses, mas também comentou os próprios territórios vinhateiros portugueses. E desse ponto de vista, é um mercado que tem enorme potencial de crescimento, e que nós queremos continuar a fazer crescer porque é um mercado com bom poder de compra, que percorre o país inteiro e que faz estadias mais longas. E foi essa a missão, que não se esgotou na dimensão promocional. Também estivemos na Universidade George Washington para aprofundar uma parceria em termos de conhecimento, para podermos conhecer melhor o mercado, para sabermos como é que nós podemos chegar a melhores segmentos de mercado dos Estados Unidos.
NSL: Há uma diferença entre o turista norte-americano e outros turistas, no sentido em que gastam mais quando vêm a Portugal.
NF: Em primeiro lugar, é preciso dizer que, de facto, é um perfil do visitante que tem permanências médias mais longas, com um gasto médio por turista, também mais elevado, e percorre o país todo. Importa sublinhar que, não só é já o quarto mercado mais importante do país, mas é já mesmo o primeiro mercado em Lisboa. Isso diz bem da importância estratégica deste mercado e mostra que temos espaço para crescer num mercado muito importante, como é o caso do mercado dos Estados Unidos.
NSL: Ao nível geral, no crescimento dos números do turismo, quais as suas estimativas para os próximos anos? Estamos a chegar a uma fase de estagnação ou a expectativa é que continuem a aumentar?
NF: O que os dados nos indicam é que há um claro crescimento. Nós já recuperámos, de forma muito significativa, aquilo que eram os números de 2019.
Em 2022, batemos um novo recorde turístico. Aumentámos em 15% as receitas turísticas em 2022 face a 2019 e, neste momento, em 2023, tivemos o melhor janeiro de sempre, o melhor fevereiro de sempre, e o melhor março de sempre, em vários indicadores turísticos.
E isso revela bem como estamos a crescer em termos turísticos, em vários indicadores e em todo o país. E é isso que é importante. E também temos de ter presente que, para lá dos indicadores, que são muito positivos, há também o clima de confiança económica que aumentou, o índice de confiança do consumidor também aumentou e, sobretudo, aquilo que tem sido o contacto com as empresas, com os operadores, revela de forma muito clara, uma grande confiança para que este ano de 2023, porventura, seja o melhor ano de sempre na área do turismo. Estamos a caminhar nesse sentido, as perspetivas são muito positivas para termos um crescimento que queremos sustentado e ao longo de todo o país.
NSL: Suponho que a agenda do turismo para o interior também seja uma peça importante nesse trabalho de aumento das receitas do turismo. Porque esta aposta tão específica numa área do território?
NF: A verdade é que nós temos vindo a crescer do ponto de vista turístico, mas temos ainda, de facto, a capacidade de crescer mais em todo o território e, nomeadamente, no interior. Nós, o que entendemos é que, sem prejuízo da importância estratégica que têm os destinos com maior nível de desenvolvimento turístico, como é o caso do Algarve, de Lisboa, da Madeira e do Porto, que são as nossas bandeiras turísticas, nós temos que puxar por outros territórios com enorme potencial turístico. E é o caso do Interior. Nós temos ainda cerca de 90% da procura turística centrada no litoral. E o que nós queremos é que haja mais desenvolvimento turístico também no Interior. E é por isso mesmo que lançámos esta agenda do turismo para o Interior. Uma agenda que visa diferenciar positivamente os projetos para desenvolver o território. No fundo, visa impulsionar o efeito catalisador do turismo, porque o turismo tem um efeito multiplicador. O turismo é muito mais do que hotéis e agências de viagens, que são importantes, naturalmente. Mas quando falamos de turismo, falamos de transportes, de construção, de cultura, de agroalimentar.
O turismo é um dinamizador de economias locais. E por isso consideramos que o turismo pode dar um contributo muito importante para a coesão territorial. E é por isso que lançámos esta Agenda do Turismo para o Interior, mobilizando um orçamento global inicial de cerca de 200 milhões de euros.
Esse orçamento global inicial assenta em quatro grandes prioridades. Em primeiro lugar, valorizar o território, isto é, criar ainda maior atratividade, reforçar a atratividade dos destinos turísticos do interior, através da valorização do património natural, do património cultural, das praias fluviais, dos passadiços, daquilo que tem a ver com o património material e imaterial, identitário do interior. Em segundo lugar, o reforço e apoio às empresas. E é por isso mesmo que temos apoios diferenciados para os investimentos das empresas no interior, com majoração acrescida nos vários instrumentos que estamos a mobilizar. Em terceiro lugar, no domínio da formação, também aí temos medidas específicas. E, por fim, a promoção turística. Estamos a trabalhar já numa campanha que queremos lançar a breve trecho para promover especificamente o interior e os territórios que dele fazem parte.
Temos, aliás, um mote para essa campanha que é: “Viaja pelo teu interior”. Este “Viaja pelo teu interior” tem duas dimensões: uma dimensão mais emocional que é a viagem para teu o interior enquanto pessoa, mas também uma dimensão territorial: viaja pelo teu Douro, pela tua Serra da Estrela, pelo teu Zêzere, pelo teu Tejo. Isto para dar apenas alguns exemplos de como queremos potenciar, por esta via, os territórios do interior. Porque de facto, se tivermos mais interior temos melhor Portugal e nós consideramos que o turismo pode ser, de facto, um fator de coesão territorial pelo seu efeito multiplicador, pelo seu efeito de dinamização das economias locais. E é, por isso, que lançámos esta Agenda para o Interior, e que estamos já concretizar. Nós lançámos recentemente avisos para a dinamização do turismo no Interior, um destinado a investimentos de natureza mais pública e outro para o microcrédito para microempresas. E vamos lançar, a breve trecho, também apoios para a internacionalização das empresas do interior na área do turismo. Estamos a concretizar aquilo que nos mobiliza, que é termos mais turismo em todo o território, incluindo no território do Interior.
NSL: Tem alguma estimativa de qual é que será depois a percentagem do interior no quadro geral do turismo português?
NF: A nossa ambição é crescer em todo o território, ter um território mais equilibrado, crescer com sustentabilidade, crescer com autenticidade e por via, também, do aumento dos fluxos turísticos ao longo de todo o território que nos permita também ter um turismo mais sustentável em todo o país. Temos ainda o desafio de crescer mais na internacionalização, nomeadamente do Interior, porque apenas cerca de 5% do turismo internacional está no interior e, portanto, é esse crescimento que nós queremos ter, trazendo mais turistas para todo o território.
NSL: Tem existido, nos últimos anos, alguma resistência ou crítica ao peso que o turismo tem tido nas grandes cidades. Esta aposta no Interior também é uma forma de diversificar a oferta do turismo pelo resto do território?
NF: O objetivo da nossa estratégia, que está muito clara, é promover um turismo sustentável, com autenticidade. Ao nível das cidades, coloca-se sempre a questão de promover a sustentabilidade e a gestão dos fluxos turísticos. E numa perspetiva mais macro nós queremos turismo em todo o território e é isso que estamos a fazer, com instrumentos de política pública para termos mais turismo em todo o território, mobilizando meios. Ao nível das cidades, as cidades têm um papel muito importante no turismo nacional. São, desde logo, âncoras de acolhimento, portas de entrada dos nossos visitantes, dos nossos turistas internacionais. E, por isso mesmo, têm um papel âncora de atratividade, no processo de regeneração urbana e de recuperação do património que tem vindo a ser feito e que está a ser continuado. Isso é muito positivo. E, portanto, é nessa perspetiva de gestão sustentável dos próprios destinos turísticos das cidades, mas também numa perspetiva mais macro, em termos de turismo em todo o território, que a estratégia do turismo está centrada. Um turismo mais sustentável, mais autêntico e mais inclusivo e, sobretudo, mais coeso, para termos turismo ao longo de todo o ano e em todo o território.
NSL: E que medidas estão a ser implementadas para ter turismo ao longo de todo o ano?
NF: Nós temos desde logo medidas, quer ao nível da promoção turística, onde temos ações dirigidas para os nossos mercados internacionais, para que Portugal seja atrativo ao longo de todo o ano. Também temos ações ao nível das companhias aéreas, onde nós estamos a trabalhar para reforçar a conectividade aérea, para que tenhamos mais voos, não apenas em alturas onde a procura é maior. Também com o apoio às regiões, para que possam ter mais programação, nomeadamente, animação turística em época baixa. São esses instrumentos que estamos a mobilizar, em trabalho conjunto com as entidades regionais do turismo, com os operadores privados. Esse tem sido um trabalho de parceria, quero, aliás, saudar aquele que tem sido o papel dos órgãos regionais de turismo, sejam as entidades regionais ou as agências regionais de promoção externa, que têm feito um trabalho muito importante no desenvolvimento das políticas das suas regiões, quer na época alta, quer na época baixa, precisamente para termos um turismo ao longo de todo o ano.
NSL: Quando falou, há pouco, na internacionalização das empresas do turismo, qual a importância de internacionalizar as empresas portuguesas nesta área?
NF: Nós queremos reforçar a internacionalização de Portugal enquanto destino turístico. E isso faz-se também com as nossas empresas, na sua capacidade de promover os seus produtos e os seus serviços, designadamente na área do turismo. E nós temos aí um caminho a percorrer no que diz respeito à internacionalização das nossas empresas. Seja, por exemplo, ao nível daquilo que é a sua oferta no digital, onde temos de reforçar a presença digital das nossas empresas, incluindo na dimensão, da comunicação em vários idiomas. Mas reforçar a internacionalização das nossas empresas no turismo também significa apoiá-las para que possam estar mais presentes nos certames internacionais de turismo, para que possam convidar operadores turísticos internacionais e imprensa internacional para visitar também o nosso país, para conhecerem a sua oferta. Isso é feito não só de forma, digamos, direta às empresas, mas também através das agências de promoção externa, que depois, articuladamente, trabalham com as empresas para as colocar nos canais de promoção e comercialização em certames internacionais na área do turismo.