Governo avança com plano de desconfinamento “prudente e gradual”
Portugal vai começar a desconfinar de forma “progressiva, prudente, gradual e a conta-gotas”, anunciou ontem o primeiro-ministro no final do Conselho de Ministros, lembrando que hoje este é um cenário possível graças ao “esforço extraordinário” dos portugueses, permitindo que “estivéssemos agora a falar de um plano de reabertura progressiva da sociedade portuguesa”.
Falando aos jornalistas no final do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro começou por fundamentar a decisão do Governo da reabertura “gradual e cautelosa” da sociedade portuguesa, após um período de maior aperto no confinamento, por duas ordens de razão. Em primeiro lugar, uma abertura cautelosa, porque os dados de novos casos por 100 mil habitantes a 14 dias “estão claramente abaixo da linha de risco que os especialistas consensualizam como aceitável”; e uma abertura gradual, porque, apesar de o país estar hoje “melhor do que há duas semanas”, continuamos, contudo, numa situação “pior do que aquela em que estávamos a 11 de setembro, quando decretámos o primeiro estado de emergência, e a 4 de maio de 2020, quando iniciámos o primeiro desconfinamento”, salientou.
Trata-se, segundo António Costa, de um programa que prevê uma reabertura cautelosa e a conta-gotas, que pretende responder, por um lado, a uma clara melhoria da situação “francamente muito abaixo dos 140 novos casos por 100 mil habitantes que se registavam há cerca de duas semanas, mas que ainda se depara, contudo, com uma situação de 105 novos casos por 100 mil habitantes”. E que é, igualmente, um plano que não perde de vista o período que se aproxima e que impõe, por isso, que até à Páscoa se mantenha “o dever geral de confinamento e a proibição de circulação entre concelhos nos próximos fins de semana e também na semana anterior à Páscoa, entre o dia 26 de março e do dia 5 de abril”, de maneira a garantir que a Páscoa “não é um momento de deslocação e de encontro, mas mais um momento de confinamento”.
De acordo com o primeiro-ministro, este plano de abertura gradual ficará ainda sujeito à análise de um conjunto de especialistas do Instituto Nacional de Saúde Pública e da Escola de Saúde Pública, que definirão periodicamente a “avaliação de risco de cada uma das atividades e da sua correlação com o risco da pandemia”, cenário que a partir do qual o Governo “tomará novas decisões” sobre o calendário que se “inicia a 15 de março e se prolonga até 3 de maio”.
Quanto a um alargamento de medidas no futuro, o primeiro-ministro lembrou que esta é uma situação que depende da análise quinzenal que os especialistas vão fazendo sobre a “evolução da situação”, verificando se o “risco de infeção está a diminuir”, caso em que “estaremos confortáveis com as medidas que adotámos, podendo mesmo, eventualmente, pensar em as alargar”, mas advertindo que, pelo contrário, se se verificar que o índice de transmissibilidade está a aumentar, então “seremos obrigados a tomar medidas cautelares para impedir que a situação se degrade”.
“Esforço extraordinário” dos profissionais de saúde e dos portugueses
Nesta conferência de imprensa, o primeiro-ministro teve ainda ocasião para dirigir uma palavra de solidariedade para todos os que nesta terceira vaga “perderam as vidas dos seus amigos e familiares e a todos aqueles que sofreram duramente a doença e aos que ainda continuam internados”, deixando igualmente um agradecimento especial para o “esforço extraordinário” dos profissionais de saúde e para todos os portugueses que, com o seu “sentido cívico, nos permitiram chegar a um momento em que podemos de novo olhar para a reabertura da sociedade com segurança e confiança”.
O futuro depende de nós
O que vai acontecer a partir de agora, segundo o primeiro-ministro, “depende de nós”, tal como sucede “desde o primeiro dia”, designadamente da forma como “formos capazes de manter a disciplina individual com o uso da máscara, com a higiene das mãos e com a distância social”. António Costa mostrou-se, contudo, seguro de que a manterem-se estas regras, apesar de reconhecer que o Governo “adotou um programa muito conservador”, vai ser possível “continuar a reabrir a sociedade”, não deixando também de reconhecer que a opção agora assumida, de “maior prudência do ponto de vista da defesa da saúde”, significa também “sacrifícios acrescidos para as empresas, para os que vivem do seu trabalho e um peso acrescido para o futuro da nossa economia”, reafirmando que em qualquer caso a vida e a saúde “são bens que temos de colocar em primeiro lugar e tudo fazer para as salvaguardar”.
Já na parte final da sua intervenção e antes de responder aos jornalistas, o primeiro-ministro apelou à continuação do bom senso dos portugueses, lembrando-lhes que, se em dois meses “fomos capazes de passar de um dos países piores do mundo para um dos melhores no número de novos casos de contágio União Europeia”, certamente que agora saberemos manter esta trajetória, “não estragar o que já conseguimos alcançar e retomar com segurança a normalidade das nossas vidas”.
António Costa sublinhou, ainda, que as medidas de desconfinamento “serão acompanhadas da execução do plano de vacinação e da nova estratégia de testagem”, que visa aumentar significativamente o número de testes, para “não nos limitarmos a testar quem teve um contacto de risco ou quem está sintomático, mas para irmos à procura dos assintomáticos, que temos de identificar e de conhecer o seu universo de contactos para os podermos isolar e assim ajudar a estancar a pandemia”.