Europa assiste a uma tragédia a que urge dar resposta
Sustentando não vislumbrar nenhuma razão para otimismos, uma vez que, como realçou, os conflitos que estão na origem do crescente número de refugiados permanecem, e nalguns casos, como lembrou, têm mesmo dado mostras de se estarem a intensificar, António Guterres criticou os potenciais países de acolhimento por apenas encontrarem respostas a este fenómeno “fechando as fronteiras”, apesar do número de deslocados “estar a aumentar”.
Para o também candidato a Secretário-geral das Nações Unidas, que falava na conferência promovida pelo PS sobre refugiados, que ontem decorreu na sede nacional do partido perante cerca de duas centenas de pessoas, e que contou ainda com a presença da Secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes e com a participação do ministro-adjunto Eduardo Cabrita e do ex-eurodeputado Rui Tavares, o quadro actual da situação dos refugiados à escala mundial assume um carácter desesperante, advertindo que nos últimos anos se tem mesmo assistido a “uma aceleração enorme e dramática” deste fenómeno com “cada vez mais pessoas a fugirem de conflitos armados”.
Falando de números “que dão uma ideia da tragédia a que estamos a assistir”, António Guterres referiu que em 2010 o número de refugiados por dia era de 11 mil, no ano seguinte passou para 14 mil, em 2012 o número de refugiados aumentou para 23 mil por dia e em 2014, segundo os últimos dados, “já eram mais de 42500 os refugiados que por dia abandonavam as suas terras.
Um quadro que na opinião do ex-primeiro-ministro demonstra de forma clara que se assiste a uma multiplicação de novos conflitos, ao mesmo tempo que se verifica que as guerras que se desenrolam, nomeadamente na Somália, no Afeganistão ou na República Democrática do Congo, permanecem e insistem em não desaparecer.
Se a estes “velhos” conflitos se juntar o que se passa atualmente na Síria e no vizinho Iraque, que foram “os grandes motores da aceleração” do número de refugiados, então, sustentou António Guterres, consegue-se vislumbrar quão “longe ainda estamos” de conseguir inverter o drama dos refugiados”.
Para António Guterres importa que todos “estejamos preparados” para que o número de refugiados não venha a diminuir nos próximos anos, pelo contrário, como realçou, tudo aponta para que a curto prazo “venham mesmo a aumentar” de forma ainda mais significativa.
António Guterres advertiu ainda os portugueses para não “embandeirarem em arco” sobre as condições de acolhimento dos refugiados, já que, na sua opinião, apesar da “generosidade”, falta “organização entre os serviços do Estado no acolhimento”.
Fronteiras fechadas problemas agravados
Para o ex-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, tudo se agrava quando se levantam barreiras e muros nas fronteiras que antes “estavam globalmente abertas” para os refugiados ainda no início da década, e que agora, lamentou, se começaram a fechar, sobretudo em certos países europeus desenvolvidos.
Situação que segundo António Guterres, “está a ter um efeito de arrastamento a montante”, sendo por isso cada vez mais difícil ao sírios e a outros povos que fogem dos conflitos armados, como sublinhou, “deixarem os seus países, para encontrarem proteção no exterior”.
Já o antigo eurodeputado Rui Tavares aproveitou a sua intervenção, depois de elogiar António Guterres e manifestar apoio à sua corrida para Secretário-geral das Nações Unidas, para criticar as políticas da União Europeia em matéria de acolhimento de refugiados, tese que foi também subscrita pelo ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, que depois de se congratular com o “grande consenso” que existe em Portugal no que respeita às formas de acolhimento, e de enaltecer igualmente o papel desempenhado neste domínio pelo ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, lamentou o “fracasso da estratégia europeia”.
Doutoramento honoris causa António Guterres recebe no próximo domingo, 22 de maio, o título de doutor honoris causa atribuído pela Universidade de Coimbra depois de uma proposta da Faculdade de Economia ter sido aprovada pelo Senado. Ação social e trabalho com refugiados são as duas razões maiores que estão na origem da distinção. O doutoramento decorrerá na Sala Grande dos Atos da Universidade de Coimbra, pelas 10h30. A madrinha do distinguido será Teresa Tito de Morais, do Conselho Português para os Refugiados. O elogio do novo doutor honoris causa será feito por José Reis, professor catedrático da Faculdade de Economia. Já o elogio da apresentante será feito por José Manuel Pureza, também professor catedrático da Faculdade de Economia, deputado do Bloco de Esquerda e vice-presidente da Assembleia da República. |