Este é um Governo esgotado e sem propostas
Falando aos jornalistas à saída da reunião com as duas centrais sindicais, António Costa começou por rotular como um “descaramento” as críticas vindas do Governo ao cenário macroeconómico do PS, quando acusam de ser eleitoralista e irrealista, recomendando a este propósito ao primeiro-ministro, mas também ao PSD e ao CDS, que leiam, antes de criticar, o documento apresentado pelos socialistas.
“É preciso algum descaramento”, disse António Costa, para que um Governo, que “não conseguiu atingir um único objetivo” a que se tinha proposto, que está prestes a chegar ao fim do seu mandato com “uma dívida que atingiu os 30 pontos percentuais acima daquela com que iniciou o seu mandato”, com uma taxa de desemprego nunca vista no Portugal democrático, se permita questionar de uma forma demagógica e pouco sustentada as propostas dos outros.
Para o Secretário-geral do PS, existe hoje uma evidência: “o atual Governo chegou ao fim do seu mandato completamente esgotado e sem propostas para o futuro”, dando como exemplo mais recente o debate ocorrido horas antes na Assembleia da República, que deveria ter debatido o Programa de Estabilidade do Governo e que acabou, por iniciativa dos partidos da maioria, por se focar em exclusivo no cenário macroeconómico apresentado pelos socialistas.
Mas o que se passou no Parlamento surge aos olhos do líder do PS como “uma coisa natural”, uma vez que, como salientou, ao fim destes quatro anos o Governo apenas tem três coisas para dizer aos portugueses: “novo corte e definitivo nas pensões; esperar pelo final da legislatura para acabar com os cortes salariais no sector público e com a sobretaxa do IRS”.
Reagindo às críticas do CDS de que a aplicação do cenário macroeconómico poderá custar ao país uma despesa de mais de três milhões de euros, e ao facto de Passos Coelho ter classificado como eleitoralista o documento apresentado pelo PS, o secretário-geral socialista acusou o CDS de “ser mau em contas” e ao primeiro-ministro aconselhou-o a ler primeiro e a criticar depois.
Para António Costa, o primeiro-ministro, ao contrário do cenário macroeconómico do PS, não “existe e não é credível”, aconselhando-o a que faça aquilo que lhe compete que é “chegar ao fim do seu mandato o mais rapidamente possível e que se concentre nos assuntos da governação”.
Comissão Política apreciou cenário macroeconómico
Ontem reuniu também a Comissão Política Nacional do PS, tendo apreciado e debatido o cenário macroeconómico apresentado ao partido por um grupo de economistas.
Falando aos jornalistas, a dirigente nacional Ana Catarina Mendes começou por reafirmar que a discussão sobre o cenário macroeconómico mereceu por parte dos membros da Comissão Nacional um acolhimento e uma aceitação “muito positivos”, não deixando de realçar os muitos contributos e apoios recolhidos.
Referindo-se à proposta de redução gradual e temporária da taxa social única (TSU), Ana Catarina Mendes reafirmou que o tema está em discussão no PS, lembrando que a proposta aponta no sentido de aumentar o rendimento disponível das famílias, incentivando a procura e com isso estimular o crescimento da economia.
A forma “muito positiva” como todos os membros da Comissão Política, que se pronunciaram na reunião, acolheram “este exercício de pedir a um grupo de economistas um cenário macroeconómico e o teste de medidas de política quanto aos seus impactos na economia e nas finanças públicas”, foi também salientado pelo secretário nacional Porfírio Silva.
Em declarações ao AS Digital, o dirigente socialista considerou natural que algumas intervenções tenham assinalado “um ou outro ponto que querem estudar com mais cuidado, para analisarem todas as implicações e, eventualmente, introduzir melhorias nas propostas apresentadas”. Essa é “uma fase a que vamos passar”, recordando que “este relatório não é o programa de governo do PS, embora seja uma ferramenta importante na sua construção”.
Porfírio Silva sublinhou que “na Comissão Política todos entenderam que se trata de um notável contributo do PS para credibilizar a boa política” e que “todos veem neste processo algo importante para continuarmos a melhorar a qualidade da democracia”. E, acrescentou, “também para fazer da alternativa PS uma alternativa muito sólida e ganhadora”.