Criação da ‘geringonça’ foi uma “surpresa” que resultou num Governo capaz de melhorar as condições de vida no país
A presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, Ana Catarina Mendes, revelou no passado sábado que, em 2015, encarou “com alguma surpresa” a possibilidade de um acordo parlamentar com o Bloco de Esquerda, o PCP e o PEV, e sublinhou que este acordo resultou num “belíssimo Governo”, que tem governado o país até aos dias de hoje.
“Só devo dizer, a título de graça, que quando o António Costa me refere esta possibilidade, no sábado do dia de reflexão das eleições, eu não queria acreditar”, afirmou a dirigente socialista num debate da Juventude Socialista (JS) sobre a história do PS e da JS, que decorreu por videoconferência.
Durante a sessão, inserida no ciclo de formação política ‘Socialismo: Valores, Identidade e Futuro’, Ana Catarina Mendes recordou o ano de 2015, em que o PS estabeleceu um acordo parlamentar com PCP, BE e PEV e ficou apelidado de ‘geringonça’. O secretário-geral do PS, António Costa, mostrou “ambição” ao tentar “uma moção de censura construtiva”, o que permitiu ao Partido Socialista formar Governo, referiu.
O Partido Socialista trabalhou “54 dias afincadamente para ter uma ligação que era completamente improvável”, mencionou a líder parlamentar do PS, já que “o Bloco de Esquerda não nasceu para apoiar o PS” e o PCP foi “o adversário principal” no “tempo do PREC” [Processo Revolucionário em Curso], em 1975.
Ana Catarina Mendes divulgou que, durante a campanha para as legislativas de há seis anos, nas quais foi cabeça de lista pelo círculo de Setúbal, foi frisando que “o principal adversário” comum entre o PS, BE e PCP era “a direita”.
“Quer o PCP, quer o Bloco não demonstravam nenhuma sintonia na frente de esquerda que era preciso fazer e, portanto, foi com alguma surpresa que, quando o António Costa me apresentou isto no dia de reflexão, eu disse vamos lá trabalhar e 54 dias depois tínhamos de facto um Governo, que foi um belíssimo Governo e que está a ser um bom Governo ainda hoje”, salientou.
A presidente da bancada socialista explicou depois que a “vocação europeísta nunca ficou colocada em causa e o socialismo democrático nunca ficou colocado em causa” com este acordo.
“O que nós fizemos em 2015, sob a liderança de António Costa, a história julgar-se-á daqui a uns tempos, e os historiadores fá-la-ão, mas os factos já falam por si, do que foi possível reverter em quatro anos, da melhoria de condições de vida das pessoas, de reconquistar direitos sociais, de reconquista da paz social e, sobretudo, de demonstrar que é possível, mesmo na nossa divergência, encontrar um projeto coletivo que não tenha descaracterizado o Partido Socialista”, asseverou.
Neste debate participaram também o fundador do PS e da JS, Arons de Carvalho, os deputados Edite Estrela e Pedro Delgado Alves, Fernanda Rollo, que integra a administração da Fundação Mário Soares e Maria Barroso, e o historiador Pedro Marques Gomes, que moderou o debate.