Autárquicas: o que ainda não foi dito
Apesar da conversa recorrente que vê por toda a parte sinais de divórcio entre os eleitores e a política, a verdade é que a taxa de abstenção caiu de 47,4% para 45%, em consequência de terem ido votar mais cerca de 175 mil eleitores do que nas autárquicas de 2013. É certo, a taxa de abstenção permanece elevada, mas, em abono da verdade, não pode escamotear-se que os cadernos eleitorais continuam a registar perto de 9,4 milhões de inscritos num país com uma população residente de apenas 10,4 milhões. O verdadeiro índice de participação democrática será, portanto, bastante mais elevado do que os números da abstenção sugerem.
A este propósito, vale a pena atentar também num outro facto importante, que ainda não vi referido: a diminuição do número de votos brancos e nulos. Se compararmos estas eleições autárquicas com as eleições locais de 2013, verificamos que o número de pessoas a votar branco ou nulo, que tinha ascendido aos 340 mil, caiu agora para cerca de 235 mil. Assim, mais de 100 mil eleitores que há apenas quatro anos usaram o voto branco ou nulo como forma de protesto contra os partidos e o sistema político, encontraram agora, na oferta proporcionada pelas diversas forças políticas, propostas merecedoras do seu voto expresso.
Não por acaso, estes indicadores – mais participação eleitoral, menos votos brancos e nulos – apontam no mesmo sentido dos resultados das sondagens recentes que revelam taxas crescentemente positivas de apreciação das instituições políticas, com destaque para o Parlamento. Todos os sinais parecem convergir para uma conclusão: a solução governativa liderada pelo PS e apoiada pela esquerda parlamentar, descrispando a vida política e respondendo aos anseios dos cidadãos, além de fazer bem à economia, está a fazer bem à democracia.