António Guterres e Rui Tavares discutiram hoje o tema da crise dos refugiados
Inserido num ciclo de debates denominado “Conversas PS 21” que o Partido Socialista está a realizar como antecâmara do seu congresso nacional, António Guterres e Rui Tavares debateram hoje a crise dos refugiados.
Numa sessão que teve lugar na sede do Partido Socialista, o antigo primeiro-ministro António Guterres afirmou hoje que o fenómeno dos refugiados é “uma tragédia” e que há razões para “pessimismo”, alegando que os conflitos de origem permanecem, as fronteiras fecham-se e o número de deslocados aumenta.
Perante cerca de duas centenas de pessoas, o ex-alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e atual candidato a secretário-geral das Nações Unidas traçou um quadro dramático sobre a situação dos refugiados à escala mundial, advertindo que nos últimos anos se tem assistido “a uma aceleração enorme e dramática” sobre a existência de cada mais pessoas que fogem de conflitos.
Guterres apresentou depois números que “dão uma ideia da tragédia a que estamos a assistir”, referindo que em 2010 o número de refugiados por dia era de 11 mil, em 2011 de 14 mil por dia, em 2012 de 23 mil por dia, em 2013 de 32 mil e em 2014 era já de 42500 por dia.
“Assiste-se a uma multiplicação de novos conflitos, ao mesmo tempo que os velhos conflitos, como os da Somália e do Afeganistão ou da República Democrática do Congo, parecem não querer desaparecer. No início da década, o ACNUR ajudava cerca de um milhão de refugiados por ano a regressar às suas casas, mas a verdade é que esses números em 2014 baixaram para menos de 250 mil pessoas”, disse.
Ora, concluiu Guterres, “isto é uma tragédia para a qual não vemos sinceramente razões para otimismo nos anos mais próximos”.
“A Síria e depois o Iraque foram os grandes motores da aceleração e, apesar das iniciativas para a paz, a verdade é que estamos ainda muito longe desse caminho. Por outro lado, há situações no mundo em que não se vê qualquer progresso a curto prazo”, sustentou.
Ou seja, de acordo com o antigo primeiro-ministro socialista, importa estar “preparados para que o número de refugiados não diminua nos próximos anos e para que esta tragédia não tenha uma solução na origem do problema, independentemente de todos os esforços que devem ser dirigidos para a prevenção e resolução dos conflitos”.
Mais grave, ainda – frisou Guterres -, é que as fronteiras antes estavam globalmente abertas para os refugiados ainda no início da década, o que acontece cada vez menos agora, sobretudo entre os países da Europa.
“As fronteiras começaram a fechar-se, sobretudo em países desenvolvidos, o que está a ter um efeito de arrastamento a montante. É cada vez mais difícil aos sírios deixarem o seu país para encontrarem proteção no exterior”, frisou o candidato a secretário-geral das Nações Unidas.
A seguir, Rui Tavares, historiador e responsável máximo do Livre, fez um rasgado elogio a António Guterres, manifestando-lhe um inequívoco apoio na sua corrida ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas.
“Esperamos que as capacidades do engenheiro António Guterres possam ser postas em breve ao serviço da comunidade internacional”, declarou Rui Tavares, que criticou a atuação da União Europeia em matéria de acolhimento de refugiados.
Também presente na sessão, o ministro Adjunto, Eduardo Cabrita, disse que a questão dos refugiados, “felizmente, tem grande consenso em Portugal” no que respeita às formas de acolhimento, em contraponto “com o fracasso da estratégia europeia” neste domínio.
Eduardo Cabrita, além de António Guterres, destacou também o papel desempenhado pelo ex-Presidente da República Jorge Sampaio no acolhimento de refugiados.
A abertura da conferência contou com depoimentos (alguns deles dramáticos) de Siraf, refugiado da Eritreia, Rafia do Curdistão – Iraque, Helena Barroco da Plataforma Global de Apoio a Estudantes Sírios (que disponibilzou um vídeo), e William e Ali, ambos estudantes Sírios.
(versão integral da sessão)