A Comissão Europeia prestou ontem em Bruxelas homenagem a Jacques Delors, falecido no passado mês de dezembro com 98 anos. Uma cerimónia em que participaram os chefes de Governo e de Estado da União Europeia, familiares e antigos colaboradores e membros do corpo diplomático, com António Costa a considerar na ocasião o antigo presidente da Comissão como “pai fundador da União Europeia atual”, alertando para o legado relevante que deixou que “deve servir como uma oportunidade para encontrar inspiração”.
Esta é, para António Costa, uma boa altura para que a Europa se lembre dos ensinamentos deixados por Jacques Delors, na véspera de um Conselho Europeu decisivo onde será aprovado, como recordou, um novo apoio financeiro à Ucrânia, “caso a Hungria não avance de novo com um bloqueio”, insistindo que a União Europeia “não pode andar a prometer de mais e a cumprir de menos”.
De acordo com o primeiro-ministro, desde o Ato Único Europeu a Maastricht, “através de realizações concretas”, Jacques Delors foi capaz de conduzir a Europa na “via de uma união cada vez mais estreita”, ajudando a unificar o norte e sul e “integrando as jovens democracias de Portugal e de Espanha”, afirmando que o sucesso da sua herança “não pode nem deve levar a que se pense que aqueles foram anos em vão”.
Continuar o caminho
Para o primeiro-ministro português, a União Europeia tem de continuar e de aprofundar o trabalho iniciado por Jacques Delors em relação ao Mercado Único, à União Económica e Monetária e à Europa Social, e prolongar o exemplo adotado em 1989, a seguir à queda do Muro de Berlim, avançando de novo com um alargamento. Objetivo que, para António Costa, assume um carácter “imperativo”, sobretudo depois da invasão russa à Ucrânia, insistindo que a União Europeia “deve desempenhar um papel decisivo como ator geopolítico e global”.
Mas para que o novo alargamento possa ser um êxito, disse o chefe do Governo, “tal como Jaques Delors compreendeu”, os 27 países da União Europeia têm de se preparar para avançar com reformas, consolidando a ideia de “casa comum”, sustentada “nos nossos valores e em alicerces sólidos e profundos”, onde cada um dos Estados-membros “se sinta confortável”. Uma Europa que deve também continuar a “não fazer concessões em matéria de democracia, de direitos fundamentais e de Estado de direito”, não deixando, contudo, como acrescentou, de “preservar e de respeitar o facto de diferentes Estados-membros desejarem diferentes níveis de integração”.
Indiscutível, para António Costa, é que a União Europeia deve avançar com passos seguros no sentido de aumentar a capacidade de investimento nas transições digital e climática, assim como na defesa, nas migrações e no alargamento, e “nunca esquecer Jaques Delors na questão da coesão”, defendendo que os “novos recursos próprios terão de fazer parte da solução”.