Começou hoje e prolonga-se pelo dia de amanhã, em Bruxelas, a reunião de chefes de Estado e de Governo dos 27 Estados-membros da União Europeia, encontro onde os líderes europeus vão discutir assuntos tão diversos como a guerra na Ucrânia, o mercado único, a situação económica, a questão energética e o tema que envolve as migrações.
À chegada esta manhã à capital belga, onde participa em mais uma reunião do Conselho Europeu, o primeiro-ministro, António Costa, começou por alertar para a “indesejável” crise alimentar que as sanções à Rússia e à Bielorrússia podem trazer aos países pobres do continente africano ou da América Latina, pedindo aos parceiros europeus para que estejam atentos ao fenómeno e aos eventuais “danos colaterais” na aplicação destas sanções.
Um cenário que, para António Costa, nenhum país pode ou deve ignorar, até pelo efeito desmobilizador, como referiu, que poderá ter na ambição europeia de alargar a mais Estados a pressão sobre a Rússia para que acabe com o conflito na Ucrânia, lembrando que a possibilidade de um bloqueio da produção agrícola, em resultado das sanções, terá uma influência decisiva “na segurança alimentar à escala global”.
Presente na reunião de hoje, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que a sua participação se justifica pelo desejo de “partilhar visões” com os líderes europeus sobre o alcance das sanções, considerando o primeiro-ministro português sensato, como aludiu, que a União Europeia “ouça a voz avisada e de bom senso” do secretário-geral da ONU para que as sanções atinjam, apenas e só “os objetivos pretendidos”.
O primeiro-ministro elogiou ainda o secretário-geral das Nações Unidas pela sua participação ativa na construção da iniciativa ‘Grãos de Mar Negro’, uma operação que permitiu, como recordou, a exportação de “mais de 23 milhões de cereais ucranianos”, o que se veio a revelar determinante para “conter a subida dos preços dos bens alimentares”.
Alargar a aliança
O chefe do Governo lembrou também que desde o início do conflito, há pouco mais de um ano, a Rússia “perdeu todas as votações importantes” na Assembleia-Geral da ONU, insistindo na necessidade de envolver mais países, e não apenas os europeus e os norte americanos, como referiu, a exercer pressão sobre Moscovo.
A importância deste alargamento assume, para António Costa, um carácter “ainda mais revelante” pelo facto de a Ucrânia ser “um dos maiores exportadores do mundo”, uma particularidade que é da maior relevância, como mencionou, sobretudo para os países africanos, “onde se nota uma maior escassez de cereais”.
Aos jornalistas, o também Secretário-Geral socialista voltou a referir que, apesar de todos os alertas, continua a existir a lacuna de não haver “um instrumento permanente para a estabilização de crises”, a exemplo do que existiu para enfrentar a pandemia de Covid-19, uma falha que considera ser grave e que, em sua opinião, deve ser quanto antes suprida.
Finalmente, o primeiro-ministro referiu-se à crescente tensão entre Washington e Pequim, instando a que o mundo não volte às décadas da guerra fria bipolarizada entre a antiga União Soviética e os Estados Unidos da América, agora com um novo protagonista, a China, defendendo que Europa, África e América Latina podem e devem desempenhar, juntamente com outros parceiros asiáticos, um papel importante para que o mundo “seja mais justo, mais equilibrado e onde a paz se consolide”.