António Costa construiu uma enorme credibilidade na Europa
“O Governo português construiu uma enorme credibilidade, porque António Costa, como primeiro-ministro, mostrou que se pode reformar com uma orientação social sem ter de violar as regras da União Económica e Monetária”, disse o atual vice-presidente da Comissão, à margem do Congresso dos socialistas europeus, que decorreu em Lisboa.
Falando à agência Lusa, Timmermans destacou que o líder socialista português foi capaz de usar “a flexibilidade que a Comissão deu”, encaminhando Portugal “para uma orientação mais social e para captar mais investimentos”, acrescentando que “este exemplo, agora que foi muito bem-sucedido, mostra que podemos reformar a União Económica e Monetária com uma orientação mais social, criando mais solidariedade”.
“A forma como os italianos estão a fazer, ignorando as regras, nunca vai funcionar. Se queremos criar mais solidariedade, isso começa por respeitar as regras e foi isso que Portugal fez com muito sucesso”, disse.
O político holandês revelou que, a ser eleito presidente da Comissão Europeia, vai apoiar as prioridades em matéria de reforma da zona euro, como o aprofundamento da união bancária, nomeadamente através de um fundo comum de garantia de depósitos, em linha com o que tem sido a política defendida pelo Governo de António Costa: “passo a passo temos de avançar nessa direção”.
“Não temos muito mais tempo e eu gostaria de ter a maior parte feita antes de outra recessão económica, o que vai acabar por acontecer mais cedo ou mais tarde. Temos de concluir isto nos próximos dois anos, isto tem de estar no centro do programa da nova Comissão e vai estar se eu for presidente da nova Comissão”, assegurou.
Timmermans definiu como prioritário assegurar “níveis adequados de investimento na Europa”, a par da construção “de um pilar social na Europa”, de forma a permitir dar algum alívio aos trabalhadores europeus, que, até agora, como referiu, “não têm visto os benefícios do fim da crise”.
Entre as prioridades para o seu programa na liderança da Comissão, Timmermans salientou ainda a importância de “assegurar que cada empresa paga impostos no país onde faz lucro”, considerando “inaceitável” haver “demasiadas companhias que não pagam impostos de todo”, “preparar a Europa para a transição energética” e para a “transição industrial”, ou afirmar uma liderança europeia na sustentabilidade, no combate às alterações climáticas, entre “tantos outros enormes desafios”.
Sánchez propõe “novo contrato social” para as europeias de 2019
Outra das principais figuras a intervir no congresso dos socialistas europeus, primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu um “novo contrato social” da família socialista e social-democrata europeia para as eleições de maio do próximo ano, combinando crescimento económico com justiça social, coesão social com o cumprimento do Pacto de estabilidade e crescimento.
“Este contrato social deve ter cinco eixos: a educação, o mercado de trabalho, como financiar e manter o nosso Estado de bem-estar [social], o meio ambiente e as alterações climáticas, e a defesa inequívoca dos valores democráticos em todos os Estados-membros na União Europeia”, referiu Sánchez, advertindo que o sucesso desta proposta depende do reafirmar dos compromissos do projeto europeu.
“Se a Europa não reafirmar o seu compromisso no combate às alterações climáticas e à aplicação dos acordos de Paris, se a Europa não batalhar contra as forças autoritárias que se opõem ao nosso projeto comum e questionam a ordem global multilateral que defendemos, será muito difícil garantir este contrato social”, alertou, muito aplaudido pelos congressistas.
No início da sua intervenção, Sánchez começou por citar Fernando Pessoa para de seguida elogiar António Costa, presente na primeira fila ao lado de Frans Timmermans, candidato dos socialistas europeus à presidência da Comissão Europeia.
“Demonstrou que mais importante que chegar ao poder é o que fazer quando se está no governo”, disse, antes de se referir ao homólogo português como “um exemplo para toda a família socialista”. E prognosticou: “No próximo ano também terás o apoio dos portugueses porque vai ser de novo primeiro-ministro de Portugal”.
“Nas eleições europeias de maio de 2019 temos de defender a Europa da igualdade, liberdade e fraternidade. Uma abordagem realista, mas otimista”, frisou, propondo “um novo impulso” à construção europeia.
“Critico o autoritarismo, não lhe chamo populismo, chamo autoritarismo, mas é preciso admitir que nem tudo está bem, o que foi feito não é suficiente. E vemos os sintomas, o ‘Brexit’, o autoritarismo, e teremos de fazer muito mais para resolver os problemas. Temos de dizer à União Europeia e aos seus cidadãos que a social-democracia está pronta para avançar e resolver os problemas”, concluiu o líder dos socialistas espanhóis.