“Ontem, na conferência de líderes, quando marcámos este debate não queríamos acreditar que hoje tivéssemos acordado numa Europa diferente e, atrevo-me mesmo a dizer, num mundo diferente”, observou Ana Catarina Mendes durante o debate da Comissão Permanente com a participação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
“Esta madrugada ficará para a história como um dia negro”, asseverou a líder parlamentar do PS, que deixou uma palavra de solidariedade a todos os ucranianos que tentam fugir a uma “guerra sem nenhuma razão para existir” e agradeceu a “forma nobre como têm resistido às agressões silenciosas ao longo dos anos”.
Para Ana Catarina Mendes, “este ato de agressão militar contra um país soberano é de tal gravidade que viola as mais elementares regras do Direito internacional e da Carta das Nações Unidas, mas é também um evidente ataque aos direitos humanos, à liberdade do povo ucraniano, um atentado aos princípios da ordem e da paz mundial. É mesmo um ataque à democracia e a todos os democratas”.
Concordando com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a presidente da bancada socialista frisou que “hoje somos todos ucranianos, porque hoje estamos todos a defender a liberdade e a democracia”.
“Hoje sabemos que o alvo de Putin vai muito mais além das fronteiras ucranianas, que o alvo é também, como já há tantos anos, a paz, a estabilidade e a segurança na Europa, é a democracia e liberdade que Putin não vê como aliados, mas como ameaças ao seu poder autocrático e ao seu sonho do regresso ao império russo, ou soviético”, denunciou.
Ana Catarina Mendes deixou uma garantia: “Juntamos a voz do Grupo Parlamentar à voz do Governo e à voz de todos quantos estão a pedir, não só uma condenação desta agressão, mas que exigem a retirada urgente das tropas russas da Ucrânia. Juntamos a nossa voz a todos os que esperam ainda que seja possível uma solução diplomática de dissuasão do caminho que a Rússia de Putin teima em escolher”.
A dirigente socialista defendeu ainda que “hoje, mais do que ontem, é fundamental a união de todos os aliados na condenação inequívoca destes acontecimentos e na aplicação de sanções fortes”.
A líder da bancada do PS considerou também “fulcral o reforço da segurança do flanco leste da NATO, do seu poder de dissuasão e o reforço para o qual Portugal tem o dever de contribuir”.
Por fim, Ana Catarina Mendes agradeceu o trabalho do Governo português “por, mais uma vez, continuarmos a ser um país humanista, um país que recebe, um país que integra e que receberá aqui todos quantos fogem desta guerra”, e saudou a decisão do Governo de “pedir às nossas embaixadas que passem os vistos sem reservas àqueles que procuram a paz, a liberdade e a democracia”.
O que a Europa e o mundo menos necessitam é de um confronto que só pode provocar retrocesso civilizacional
Também o deputado do Partido Socialista Capoulas Santos considerou que esta “crise representa a maior ameaça à paz mundial a que assistimos desde o pós-guerra” e assinalou que “existe um amplo consenso na sociedade portuguesa e nas suas instituições políticas relativamente à condenação, sem qualquer contemplação, das autoridades russas pela sua exclusiva responsabilidade no presente conflito”.
“Não há nenhum argumento histórico, recente ou remoto, que possa justificar o uso da força para alterar fronteiras internacionalmente reconhecidas e pôr em causa a integridade territorial e a soberania de um país independente”, assegurou.
Capoulas Santos aplaudiu depois a forma como as instituições europeias “têm vindo a reagir à situação criada pela Rússia com firmeza, mas com a prudência e o gradualismo que as circunstâncias exigem”.
“A unidade dos 27 até agora demonstrada” e a “boa articulação da União Europeia com os nossos aliados extracomunitários, para além de confirmar a gravidade da situação, é um sinal de responsabilidade e de afirmação do projeto europeu, que nos dá confiança para o futuro”, disse.
O deputado do PS referiu no final da sua intervenção que, “no preciso momento em que começamos a vislumbrar a vitória sobre a maior pandemia do último século, em que a generalidade dos indicadores económicos nos dão sinais positivos de recuperação e em que todos os esforços à escala global deveriam estar concentrados no maior desafio que se coloca à humanidade – as alterações climáticas –, o que a Europa e o mundo menos necessitam é da abertura de um confronto de grandes proporções que só pode provocar retrocesso civilizacional e um inútil e incomensurável sofrimento humano”.