Após uma declaração contundente em que criticou o discurso de tomada de posse do novo primeiro-ministro, que descreveu como uma alocução “sem ambição, sem visão e sem desígnio para Portugal”, Pedro Nuno Santos lamentou que o executivo chefiado por Luís Montenegro demonstre estar, desde a sua estreia, “mais pressionado pelo seu próprio programa do que pelo excedente orçamental”.
Em resposta a questões relacionadas com a valorização das carreiras e das grelhas salariais de diferentes grupos profissionais da administração pública, o líder socialista deixou claro que a matéria “não nasceu depois do dia 10 de março”.
“Ela foi compromisso eleitoral de todos os partidos políticos, inclusivamente da AD”, lembrou Pedro Nuno Santos.
Já no que respeita ao IRC, o Secretário-Geral socialista salientou que, numa altura em que a banca tem lucros acima dos 4 mil milhões de euros e o setor da grande distribuição apresenta mais de mil milhões de lucro, considerar como prioridade baixar este imposto, em vez de se dar resposta às dificuldades e aos problemas que os portugueses têm, é “uma prioridade errada” que, adiantou, “não pode ter o apoio do PS”.
“Não estejam à espera de que, perante o anúncio da AD de que não há capacidade para dar resposta a muitas reivindicações da população, mas há capacidade para reduzir impostos às empresas, depois tenham o apoio do PS. Isso não acontecerá”, pontualizou.
Ainda sobre este assunto, recordou que alguns dos compromissos eleitorais da AD, nomeadamente na resposta às reivindicações de grupos profissionais da administração pública, correspondem a matéria de consenso, razão pela qual o PS se disponibilizou desde logo para serem matéria de um eventual orçamento retificativo.
E lamentou a ausência de reação do PSD perante este desafio lançado pelo Partido Socialista, assinalando não ter havido até ao momento qualquer resposta por parte de Luís Montenegro, com o qual disse só ter tido uma conversa, desde a noite eleitoral, aquando da eleição para a presidência da Assembleia da República.
Sublinhou, contudo, que fará esse contacto “em boa hora” e por sua própria iniciativa, ressalvando, porém, que, “tendo em conta o discurso que foi feito e a necessidade de se encontrar soluções maioritárias para se governar o país”, também espera que haja “uma iniciativa do primeiro-ministro para falar com o partido que acha que está quase obrigado a sustentar-lhe”.
Divergências de fundo e visão muito diferente para o país
“Esperamos que esta vontade de diálogo, esta humildade que é invocada no discurso, seja vista na prática também”, atirou Pedro Nuno Santos que, questionado pelos jornalistas sobre o Orçamento de Estado, reafirmou que “PS e AD têm divergências de fundo sobre muitas matérias”.
“Um Orçamento de Estado é um documento global, é uma declinação do programa eleitoral, que o Governo da AD quer cumprir. Mas nós fomos a votos com outro e estamos comprometidos com o nosso programa e não com o programa da direita”, enfatizou.
Admitindo ser necessário aguardar pelo documento, Pedro Nuno Santos voltou a frisar que será “praticamente impossível” que o PS possa viabilizar um orçamento da AD, assumidas que estão duas “visões muito diferentes” para Portugal.
“As propostas que a AD tem para a saúde são, na nossa opinião, negativas e erradas. Serão muito duras para o SNS a prazo”, exemplificou.
A terminar, lembrou que se o “não é não” de Luís Montenegro merece ser respeitado, também é exigência elementar “que se levem a sério as posições assumidas pelo Partido Socialista, no exercício da liderança de uma oposição democrática”.
“Passemos também a respeitar o PS e o seu posicionamento perante o país. O PS governou oito anos, apresentou e defendeu o seu programa e os seus deputados não foram eleitos para suportar a AD. Quem se disponibilizou para governar nestas condições foi a AD e Luís Montenegro, que é quem tem de encontrar uma solução de governabilidade. Essa solução de governabilidade não conta com o PS. Nós somos oposição”, rematou, contundente, Pedro Nuno Santos.