Acordos à esquerda podem ser repetidos
Quanto à hipótese de se aprofundar o atual compromisso entre os partidos de esquerda, o líder da bancada do PS defendeu que a presença num Governo implica um grau de comprometimento “mais densificado e elevado”.
Apesar de não reinterpretar “o que diz o Secretário-geral do PS”, o socialista acredita que António Costa foi claro quando disse que se fez um percurso ao longo destes anos [de Governo]. “Estamos satisfeitos com os resultados desse percurso e entendemos que pode ser repetido, particularmente na dimensão que tem tido”, afirmou Carlos César, no final da reunião semanal do Grupo Parlamentar do PS.
Quanto a poder dar-se um passo em frente, o líder parlamentar socialista assume cautela: “Colocar-se-ia a questão de saber se o PCP poderia ter a pasta da Defesa Nacional ou se o Bloco de Esquerda podia ter o lugar de ministro dos Negócios Estrangeiros. Isso implicava da parte desses partidos um compromisso que não existe neste momento. Mas a vida é assim, todos podem mudar”.
PS votará a favor de Comissão de Inquérito sobre Tancos
Carlos César anunciou ainda que o PS dará um voto favorável à constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso Tancos.
“O PS nunca desvalorizou o que aconteceu em Tancos, nunca deu por encerrado esse assunto, nunca se sobrepôs à investigação judicial e aguarda as suas conclusões. Entendemos que, se a Assembleia pretende investigar de modo paralelo o que passou, tem o direito de o fazer”, defendeu.
O presidente da bancada socialista garantiu que o partido “não se constitui como obstáculo a que isso aconteça”, mas não deixou de acusar o CDS-PP – de quem partiu a proposta – de pretender denegrir instituições do Estado.
Esta iniciativa “vem na linha daquilo que este partido [CDS] tem sido nos últimos tempos, um partido muito empenhando em denegrir o Estado, neste caso contribuindo para o desprestígio das Forças Armadas, e que procura através de ações de foguetório deste tipo sobressair na luta fratricida que hoje se trava na direita portuguesa”, atacou.
Carlos César apontou que o presidente desta comissão deverá sair do PS e que, coexistindo um processo criminal, “muitas das pessoas que importa inquirir são arguidas nesse processo”. Ou seja, “terão o direito de não depor em sede de Comissão de Inquérito, além de se poder estar a trabalhar em matérias protegidas pelo segredo de justiça. Mesmo assim, o PS não obstrui o trabalho de uma Comissão de Inquérito e qualquer outra iniciativa com essa tipicidade”, explicou.
“Se alguém deseja que a Assembleia da República esteja incluída num processo desta natureza, o PS, apesar de entender que isso não seria prioritário e que era desnecessária a acumulação dessa ação com as investigações que estão em curso, não se constituirá como um obstáculo a que isso aconteça”, reforçou.
O líder parlamentar do PS referiu ainda que o Governo “esteve muito bem” relativamente ao episódio do furto de armas em Tancos, “porque não tinha possibilidade de acautelar o que aconteceu, mas tinha a obrigação – e cumpriu-a – de acautelar qualquer aspeto que resultasse em matéria de segurança interna”.
Carlos César disse que o Executivo “deu uma orientação clara às Forças Armadas que situações dessas não poderiam ocorrer” e que “deveria ser imediatamente colmatada a permeabilidade detetada”.
A Assembleia da República vai discutir e votar, no dia 24 de outubro, a proposta do CDS de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas no furto de armas em Tancos.