Em 2015, o PS assumiu a governação do país e ainda não nos esquecemos da situação que encontrámos: um país fustigado por quatro anos de governação de direita, durante os quais nos disseram constantemente que não havia alternativa às políticas de austeridade, que não havia esperança. Contra todas as probabilidades, no entanto, o nosso Governo conseguiu virar a página da austeridade e provar que as políticas de esquerda podem não apenas devolver a esperança, mas também colocar o país no caminho da justiça social, igualdade e progresso.
Além disso, essas políticas progressistas foram implementadas sem desconsiderar a solidez das finanças públicas. Portugal atingiu o seu primeiro excedente orçamental desde a Revolução dos Cravos de 1974, aumentando o salário mínimo em 40% e reduzindo as taxas de desemprego para metade (de 12,4% para 6,8% entre 2015 e 2020). Os livros escolares tornaram-se gratuitos, o transporte público mais barato para todos, a precariedade no mercado de trabalho diminuiu e o rendimento disponível das famílias aumentou 25%.
Tudo isso foi possível também graças ao apoio parlamentar dos partidos à esquerda do Partido Socialista – a chamada ‘geringonça’. No entanto, estes partidos, por razões que só eles conhecem, decidiram votar contra o Orçamento do Estado para 2022, um dos orçamentos mais progressistas até agora, provocando eleições antecipadas e colocando Portugal numa crise política desnecessária a par da crise pandémica.
Foi neste contexto que os portugueses foram chamados a votar no domingo passado, e o resultado foi uma vitória clara e absoluta para o Partido Socialista, juntamente com um reconhecimento irrefutável do sentido de Estado do Primeiro-Ministro António Costa. Mais uma nota positiva, contrariando tendências anteriores, as taxas de abstenção foram mais baixas do que nas eleições passadas, mostrando o quanto os portugueses sentiram a necessidade de se pronunciar e catapultar o PS para a maioria absoluta no Parlamento.
Um resultado preocupante é que o Chega, partido de extrema-direita, elegeu 12 deputados, tornando-se o terceiro partido mais forte, depois do Partido Social Democrata, que garantiu 76 lugares.
A Iniciativa Liberal cresceu e é agora a quarta força política no Parlamento, com 4,98%, ultrapassando tanto o Bloco de Esquerda como o Partido Comunista Português, os dois partidos que tinham dado apoio parlamentar à ‘geringonça’ nos últimos anos.
Uma maioria absoluta não significa poder absoluto: implica diálogo e compromisso. O Partido Socialista pretende manter a sua longa tradição de compromisso democrático e chamará ao debate plural todos os partidos democráticos representados no Parlamento e continuará a ouvir e a recolher contributos de todos os setores da sociedade. Uma vitória tão grande é uma enorme responsabilidade, e o Partido Socialista está pronto para enfrentar os desafios e responder ao apelo dos nossos eleitores.
Devemos, rápida e eficazmente, voltar ao trabalho e pôr em prática o nosso Programa Eleitoral. Devemos executar a nossa visão dando uso a uma alavanca sem precedentes e irrepetível oferecida pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que permitirá aumentar os rendimentos disponíveis em 20% até 2026, combater a pobreza, mais particularmente reduzir a pobreza infantil para metade, defender o Estado Social (através, por exemplo, do investimento no Serviço Nacional de Saúde, bem como através de prestações sociais, ou a aposta na habitação pública), lutar por uma maior justiça fiscal – garantindo que todos contribuam na justa proporção.
Estes são alguns dos compromissos que assumimos com os portugueses, e é isso que o Partido Socialista se compromete a fazer nos próximos quatro anos: ser o elo entre responsabilidade e solidariedade, não só em palavras, mas em ação.
* Enquanto escrevo, ainda falta a eleger quatro deputados, pelos círculos da Europa e fora da Europa.
Ana Catarina Mendes
Deputada à Assembleia da República e líder do Grupo Parlamentar do Partido Socialista
[Artigo publicado pela Fundação para os Estudos Progressistas Europeus]