A situação decorrente das eleições legislativas de ontem impõe aos socialistas uma reflexão profunda. Não há soluções simples para problemas complexos – e o desafio da extrema-direita às democracias está presente em muitas sociedades do mundo de hoje, impedindo que alguém responsável e lúcido possa ter uma explicação única para os acontecimentos ou pretenda ter a chave direta capaz de regenerar a democracia sem a fazer perigar. Não será um líder iluminado a encontrar a resposta ao momento presente: é a nossa força como coletivo de mulheres e homens livres, comprometidos, ligados às dinâmicas reais da nossa sociedade neste tempo histórico concreto, nos territórios concretos que fazem o nosso país, que terá de produzir a reflexão e as decisões capazes de nos colocar de novo no caminho que cabe ao partido que mais contribuiu para o desenvolvimento e para o progresso do nosso país. Esse processo precisa de tempo e de ponderação.
É imprescindível que esse tempo e essa ponderação, requisitos para a qualidade das decisões internas a tomar quanto ao futuro, não prejudiquem um encontro marcado com o país, que são as próximas eleições autárquicas. Todas as eleições são importantes, porque todas elas são momentos de nos apresentarmos à cidadania com as nossas propostas e com as mulheres e os homens que as corporizam. Contudo, nas eleições autárquicas esse encontro é massivo, desmultiplicado, com milhares de cidadãos envolvidos, uma verdadeira festa da democracia que tem no poder local um dos seus vetores mais decisivos. As modalidades de definirmos a nossa linha política nacional, de escolhermos os nossos dirigentes nacionais, de traçarmos o nosso rumo e estratégia para a próxima legislatura, não podem atrapalhar a nossa apresentação decisiva a todos os territórios, municípios e freguesias. Não podemos deixar que um processo interno, que precisa de tempo e calma, se sobreponha a um processo eleitoral que não espera por nós.
Se o PS não é, como não poderia ser, um partido que se esgote na luta pelo poder ao nível do Estado central; se a inserção democrática do PS passa decisivamente pelo poder local, onde se joga uma dimensão importante da proximidade entre representantes e representados – não podemos, nem por um minuto, deixar a ideia de que as próximas eleições autárquicas possam ser secundarizadas relativamente a um processo interno. No próximo sábado, coletivamente, a Comissão Nacional encontrará a melhor metodologia para responder a este desafio. Mas o foco só pode ser este: vencer as autárquicas que aí vêm.