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Uma leitura para férias – À espera de Moby Dick de Nuno Amado

Uma leitura para férias – À espera de Moby Dick de Nuno Amado

UMA SUGESTÃO DE MARIA JOSÉ LEITÃO
Uma leitura para férias - À espera de Moby Dick de Nuno Amado

Se vai de férias para os Açores, leve na mala este romance epistolar de um jovem autor português. E porquê? Porque, através de cartas a um amigo, o narrador fala da sua vida numa enseada pacata e recôndita dos Açores, onde não falta o chá, o “chuviscar lá fora”, o som do mar – “se um dia se calasse, eu ia sentir a falta dele, pois o silêncio que se seguiria soaria a gemido” – , a esperança de avistar baleias e também ” a visão mais surreal ” de “dezenas de baleias-piloto estendidas à beira-mar”, a presença de tipos como o pescador, o biólogo marinho, o mergulhador, o surfista,… enfim, toda uma atmosfera envolvente e mágica que é um apelo à fruição das ilhas e ao desejo de se deixar “afetar” pelo Atlântico.

Mas, se vai partir para férias e o seu destino não é uma ilha açoriana, leve também este livro que retrata a busca de alguém que se isola, não para romper com os outros, mas para se encontrar e encontrar uma saída para a dor “depois de aquilo-que-aconteceu“. E não são as férias aquele momento de encontro privilegiado connosco próprios, que não exclui a “necessidade de toque humano” para superar o vazio?

À espera de Moby Dick é uma narrativa aliciante que se vai construindo em fragmentos, ao longo de cartas dirigidas na sua maioria ao “melhor amigo” mas também a outros destinatários – alguns deles surpreendentes -, onde desfilam personagens aparentemente simples, sem história, que a pouco e pouco vão revelando os seus dilemas e dramas. E o mistério que os vizinhos do narrador guardam ciosamente, adensado pelo inesperado de situações e pela estranheza de certas atitudes, contribui para alimentar o suspense e a curiosidade do leitor.

Um romance fresco e otimista, profundo e pleno de sensibilidade, que mostra que “a vida urge”, embora não possamos regressar a quem fomos, estar de novo onde estivemos, amar o que amámos”. Nas cartas perpassam descrições e reflexões suscitadas por experiências do dia a dia, por paragens tão distantes dos Açores como Praga ou Florença, por encontros que provam que “a vida é “como um filme ininterrupto que nos esforçamos por parar”.

Mensagem de fé na determinação, coragem e resistência do ser humano, evidenciada no simbolismo do título – À espera de Moby Dick.