Um Novo Grande Museu em Lisboa
Venho sugerir-lhe uma visita à mais recente atração cultural e turística de Lisboa e do país – o novo Museu dos Coches.
Três anos depois do previsto e perdidos pelo menos 4,5 milhões de euros de receitas potenciais, abriu finalmente ao público o maior investimento cultural na capital portuguesa nos últimos 30 anos.
Com projeto da autoria de um dos maiores arquitetos contemporâneos, o Prémio Pritzker Paulo Mendes da Rocha, o edifício permitirá tirar o devido partido da coleção de coches reais, que não dispunha das condições ideias de apresentação e valorização nas interiores instalações (que aliás continuam afetas ao Museu).
Estando a obra praticamente concluída em 2011, aquando da posse do atual Governo da direita, este projeto foi propositadamente escolhido para servir de exemplo de um suposto despesismo que o país tinha que contrariar, fosse qual fosse o objetivo visado.
Essa decisão de pura chicana política ignorou – e até escondeu – a existência de total sustentabilidade financeira do novo equipamento cultural, o financiamento integral do projeto pelas contrapartidas pagas ao Estado pelo Casino de Lisboa e as virtualidades extraordinárias para a atração turística de Lisboa e para a promoção do país no estrangeiro que resultam de um projeto que aproveita património nacional existente (os coches da coleção do Museu) e o valoriza exponencialmente.
Embora o atual Governo não tenha sequer conseguido finalizar a obra do Museu, que abriu sem projeto expositivo dos Coches, sem restaurante e lojas e sem conclusão da ligação pedonal por cima da linha férrea e da Av. da Índia, tudo com financiamento assegurado por verbas consignadas pelo Turismo de Portugal, vale a pena perceber a magnitude e excelência deste projeto e imaginar o que seria o seu aproveitamento integral e em devido tempo.
O próprio espetáculo de obra parada, cercada por tapumes, numa das mais nobres zonas turísticas e culturais da cidade de Lisboa, ao longo de mais de 3 anos, visando servir como exemplo vivo da “probidade” de um Governo de pretensos puritanos, que vieram colocar a austeridade e a modéstia como regras básicas da vida coletiva, constituiu a mais vergonhosa das maneiras de usar o património público como arma de arremesso política.
E ao fazer a inauguração, como se tudo fosse obra sua, como se lhe devêssemos ficar reconhecidos por esta transigência em relação à regra de eliminar tudo o que seja investimento cultural que sobressaia da mera manutenção do existente, o Governo mostra bem o seu oportunismo político. Tudo foi sacrificado à ideologia da “modéstia” e ao pragmatismo do planeamento de campanha eleitoral.
O que lhes falta, além de vergonha na cara, é reconhecer que este compasso de espera, exclusivamente determinado por timing político, custou milhões ao país: se a abertura do Museu tivesse ocorrido em 2012, como previsto e possível, só a receita de ingressos teria sido superior a 1,5 milhões por ano, havendo ainda a acrescentar proveitos com eventos, campanhas, visitas para grupos, comércio e restauração. Só no primeiro dia, houve cerca de 20.000 visitantes!!!
Agora imagine-se o potencial promocional, para a Cultura e o Turismo, que teria tido uma abertura atempada de um equipamento com esta dimensão, valia patrimonial e ineditismo a nível internacional.
Mesmo assim, como ex-responsável do Turismo de Portugal, que tão grande contributo deu para este projeto e que tanto ganhará com a sua visibilidade e prestígio, quero dizer-lhe que não deixe de visitar o novo grande Museu em Lisboa, mas pensando, nesse momento, nos prejuízos que os irresponsáveis que ainda nos governam causam a Portugal e à Cultura.
*Secretário Nacional do PS