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Um novo dia D?

Um novo dia D?

Dia 6 de Junho de 1944 mais de 100 mil soldados dos exércitos aliados desembarcaram na Normandia, marcando o princípio do fim da sangrenta segunda guerra mundial e iniciando um ciclo de paz, reconstrução e desenvolvimento no território europeu. Dia 23 de Junho, 72 anos depois, a Europa viverá um novo dia D, com o referendo britânico sobre a permanência na União Europeia. Seja qual for o resultado do referendo, e eu desejo que seja favorável à continuação do Reino Unido na UE, nada poderá continuar a ser igual.

Opinião de:

Um novo dia D?

A União Europeia continua a ser o mais forte mercado do mundo, o território mais democrático, o que mais coopera e ajuda os Países com dificuldades, o que mais pugna por estratégias de desenvolvimento sustentável e o que mais garantias sociais dá aos seus cidadãos, mas a burocracia, a falta de desígnio, a obsessão financeira, a erosão dos valores e a ausência de solidariedade interna e externa, enfraquecem perigosamente o espírito europeu no coração dos seus povos.

Por isso, com ou sem o Reino Unido no seu seio, a UE tem que mudar. Tem que mobilizar com inteligência os recursos e as pessoas para fazer face aos grandes desafios das migrações, do desemprego, em particular do desemprego jovem, e do terrorismo. Tem também que inverter as políticas que têm conduzido à desigualdade crescente de oportunidades entre os Países que a constituem, minando a confiança e a coesão.

Um ano passado sobre o seu inicio de aplicação, o Plano Juncker para o Investimento Estratégico apresentou resultados dececionantes. Foi vítima, também ele, da aplicação do princípio das vantagens comparativas (investir onde é garantido maior retorno imediato) sem compensação das assimetrias causadas. Sem uma estratégia de contraponto à aplicação pura desta teoria, as regiões europeias mais fortes serão cada vez mais fortes e as mais fracas cada vez mais fracas. Com esta dinâmica o projeto europeu acabará por se diluir.

No plano monetário nominal, Mario Draghi e o Banco Central Europeu têm conseguido aplicar uma política de reequilíbrio financeiro com o designado “quantitative easing” – financiamento facilitado numa tradução literal. Do que a UE precisa é de passar do nominal ao real. De gerar um “investment easing”, ou seja, de criar um orçamento e um mecanismo comum de investimento real nas economias dos Países com maiores dificuldades, para que estes melhorem o seu potencial económico e possam fazer face aos seus desequilíbrios financeiros. Fazê-lo será fazer do dia D da incerteza sobre o futuro do Reino Unido na UE num dia D de certeza sobre o sucesso do futuro do nosso projeto comum.  

PS: À memória de Jo Cox. Morreu por um bom combate. Que descanse em paz.