UM ANO DE GOVERNO
Costa procura recuperar a confiança dos portugueses na política, algo abalada por uma abstenção muito elevada, como se viu nos Açores. Vai, também, procurar que o acordo de esquerda dure, pelo menos, duas legislaturas e meia, por causa da Agenda para a Década – outro passo para a retoma da confiança, porque, a par das promessas não cumpridas, o desencanto é fruto da instabilidade governativa e da incerteza que provoca. Costa pode, depois, pensar em Belém, como corolário lógico da sua carreira política. Só falta ser Presidente. E seria, sem dúvida, muito melhor do que Marques Mendes!
O desejo de António Costa de que o acordo de esquerda dure duas legislaturas e meia pode parecer, mas não é, uma quimera. Nem sempre em política o que parece é. O próprio Vasco Pulido Valente é capaz de já estar arrependido de ter batizado a atual solução política com o nome de geringonça, tal a consistência e solidez que ela tem revelado neste seu primeiro ano de vida. Mas mesmo na hipótese, para mim um pouco absurda, de o PS, o BE e o PCP se desentenderem a curto prazo, Costa, que é um dos raros políticos portugueses atuais que aprecio, não só por ser um excelente negociador, mas também pela sua probidade, tem sempre a possibilidade de fazer um bloco central, uma vez que mantém uma excelente relação com Rui Rio. De qualquer forma, prefiro claramente o acordo de esquerda ao bloco central. Este é mais contranatura, porque o PSD é um partido de direita, com tiques de extrema-direita, e o PS, honra lhe seja, não é. Os socialistas dão-se melhor com a esquerda do que com a direita.
Dissemos que Costa, neste seu primeiro ano de Governo, tem razões para estar satisfeito, porque cumpriu o que prometeu. E o grau de cumprimento das promessas ainda é maior, se tivermos em conta que a previsão de 1,2 para o crescimento económico deverá ser atingida. É, sem dúvida, uma bofetada de luva branca na direita e uma homenagem a Mário Centeno, um grande ministro, e que tem sido o braço-direito de Costa. Mas o ministro da Economia também está de parabéns. E imagine-se que Marques Mendes o queria demitir! Os dislates deste comentador fazem-nos ficar perplexos, quando ele admite candidatar-se a Belém. Mas atrevo-me a dizer que este primeiro ano do Governo PS foi um ano de ouro para Costa porque, além do que já foi exposto, viu a sua coabitação com Marcelo funcionar em pleno. Será justo sublinhar que o Presidente não tem criado dificuldades ao Governo, e tal como Costa, procuram a harmonia institucional. A imagem do chapéu-de-chuva permanece viva e atual. Simões Ilharco