Falando em Bruxelas, à margem da cimeira entre a União Europeia e os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que ontem começou na capital belga e que se prolonga até hoje, terça-feira, depois de um interregno de mais de oito anos sem que tivesse havido uma reunião de alto nível entre os dois blocos, o primeiro-ministro começou por manifestar satisfação por finalmente se começar a desenhar uma clara “vontade política” de ambos os lados em ultrapassar os bloqueios que “fomos encontrando”, tudo apontando agora, como referiu, para que, até ao final do ano, a UE e os países da CELAC concluam um acordo económico e social, “ambicioso, equilibrado e abrangente”, capaz de estreitar as relações económicas entre os dois lados.
Quanto ao acordo mais restrito com os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, António Costa referiu que ambos os lados estão a trabalhar para que também até dezembro, no final da presidência espanhola da União Europeia, haja a assinatura de um acordo económico, que a concretizar-se, “como tudo indica”, será “mais importante do que o que existe com os Estados-Unidos da América ou com o Canadá”.
Ainda segundo o chefe do Governo, o desenrolar dos trabalhos tem vindo a demonstrar que para se chegar a um acordo económico sólido entre a UE e o Mercosul, o caminho poderá muito bem passar, como defendeu, por “repetir a solução encontrada muito recentemente com a modernização do acordo com o Chile”, lembrando haver igualmente “importantes avanços nas negociações do acordo com o México”.
Ucrânia e crise alimentar
Neste encontro com os jornalistas em Bruxelas, o primeiro-ministro abordou também a questão da exportação dos cereais ucranianos e a não renovação do acordo por parte da Rússia. “Uma má notícia”, disse António Costa, que poderá levar a uma “crise alimentar à escala global”, sendo por isso necessário, como adiantou, “encontrar as melhores soluções para que esse comércio se possa restabelecer”.
António Costa teve ainda oportunidade de desvalorizar as divergências e as eventuais discordâncias que existam entre a União Europeia e alguns dos países da América Latina quanto à questão da guerra na Ucrânia, referindo trata-se de um sinal de que “o mundo é diverso” e que “nem todos olham com os mesmos olhos os problemas do mundo”, defendendo, contudo, que o essencial “é haver cooperação constante entre os dois blocos”.