O Conselho Europeu aprovou, ontem, por larga maioria, uma recomendação à Comissão Europeia para que atribua à Ucrânia, mas também à Moldova, o estatuto de países candidatos a integrar a União Europeia, decisão subscrita por Portugal, mas que levou o primeiro-ministro a apelar aos congéneres europeus para que não deixem de escutar e de analisar “a desilusão” manifestada pelos países dos Balcãs Ocidentais, que negoceiam há anos a sua adesão.
O líder do Governo português, que falava no final de uma cimeira extraordinária do Conselho Europeu, voltou a recordar que qualquer negociação de adesão de um país à União Europeia sempre obedeceu, “necessariamente”, a “um processo longo”, insistindo, contudo, na manutenção de uma relação com Kiev, “leal, correta e empenhada”. O que também implica, como acrescentou, que a União Europeia se prepare em termos “institucionais e orçamentais” para que o processo de integração possa ser “um caso de sucesso” e não um fator de “enfraquecimento da União e de frustração para os próprios países”.
Neste encontro com os jornalistas, António Costa teve ainda ocasião para voltar a referir que o importante é que as instâncias europeias não percam de vista o “sentido de responsabilidade” e que compreendam que não podem gerar falsas expetativas, lembrando a este propósito que, quer no passado, mas também mais recentemente, a União Europeia “tem pago um custo elevado na sua credibilidade por má gestão de expetativas”.
Para o chefe do Governo, o facto de a Ucrânia ser hoje um país em guerra e a “sofrer uma invasão bárbara por parte da Rússia”, obriga a União Europeia a uma redobrada atenção para que não haja lugar a “frustrações ou a falsas expetativas”, aconselhando a que o processo seja gerido “com responsabilidade e com verdade”, para que “o momento histórico” proclamado pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, seja uma realidade.
“A frustração de muitos dos países dos Balcãs Ocidentais tem toda a razão [porque] quando há um país que, ao fim de 20 anos, não cumpre ainda os critérios de adesão, a falha não é só do país, é também um fracasso das instituições europeias que não foram capazes de se organizar no apoio a esse país para poder preencher os critérios”, do mesmo modo que também há culpas repartidas, disse ainda o primeiro-ministro, quando há países que já cumprem todos os critérios, mas que estão bloqueados no avanço das negociações “por razões de conflitos bilaterais entre países”.
“Portanto, a UE tem de aprender com as lições dos seus próprios erros e, mais uma vez, insisto que todos aqueles que hoje aprovaram o estatuto de país candidato para a Ucrânia e para a Moldávia tenham bem presente esta lição”, exortou António Costa.