Ao falar esta manhã no Museu de Portimão, Pedro Nuno Santos afirmou que essa partilha entre direita tradicional e extrema-direita “ficou clara desde logo no discurso de tomada de posse do novo primeiro-ministro português”, Luís Montenegro.
A dois meses das eleições para a constituição de um novo Parlamento Europeu, Pedro Nuno Santos destacou a importância determinante deste sufrágio numa Europa onde “cresce o individualismo” e já vários países são governados “pela direita e extrema-direita, juntas”.
“Percebo bem que no Parlamento Europeu haja uma distinção entre diferentes blocos, mas que ninguém se iluda”, frisou, apontando que “a direita clássica, quando precisa para governar, não hesita e alia-se à extrema-direita”.
“O que nós vamos assistindo é a uma direita tradicional a assumir as bandeiras da extrema-direita, como aliás já se verifica hoje também em Portugal”, declarou o líder socialista, considerando existirem “mais semelhanças entre a chamada direita clássica e a extrema-direita do que aquilo que se vai assumindo”.
Os partidos da dita direita tradicional, referiu, “ou governam com a extrema-direita ou assumem as suas bandeiras”.
Neste contexto, o líder do PS sustentou ser de vital importância que os socialistas mantenham “a sua ideologia” e “combatam as novas alianças”, para responder, cooperativa e coletivamente, aos problemas das pessoas, preservando o Estado democrático.
Depois, evidenciou que, na política, esta cooperação expressa-se através do Estado Social, do modelo social que os europeus “foram capazes de construir em conjunto”, dando “respostas aos problemas coletivos e aos problemas individuais”.
Com o avanço da direita e da extrema-direita, “esta visão social está em perigo”, avisou, criticando fortemente o “aproveitamento da frustração, da zanga e do descontentamento legítimos que tantos europeus vivem” em prol de “uma política de ilusões, sem soluções”.
Aos “milhões de europeus” que sentem que a política deixou de dar soluções seus problemas, o Secretário-Geral do PS deixou uma mensagem de compromisso.
“Há ideologia, há política diferente e os socialistas vão mostrando ao longo dos anos que nos distinguimos de forma séria daquilo que é o trabalho que a direita vai fazendo”, enfatizou.
Habitação é um dos maiores desafios
Numa referência aos grandes desafios que a Europa, em geral, e Portugal, em particular, enfrentam, e que passam principalmente pela diversificação económica e pela implementação eficaz das políticas comunitárias, Pedro Nuno Santos defendeu a realização de debates na União Europeia sobre a política de auxílios do Estado.
“Precisamos também de recuperar alguns instrumentos de política industrial e de incentivos específicos e diferentes dentro da Europa”, declarou, frisando que a “distinção entre nós socialistas e sociais-democratas e eles liberais não pode estar apenas no espaço dos assuntos sociais e culturais”.
“É também na economia e na produção que nos temos de distinguir deles”, insistiu, lembrando que outro setor-chave para a afirmação desta distinção é a habitação, “um dos nossos maiores desafios”.
Pedro Nuno Santos atribuiu responsabilidades à política europeia na atual crise da habitação vivida em Portugal e noutros estados-membros da União, exigindo o desenvolvimento de respostas eficazes ao nível comunitário.
Segundo o líder socialista, há um trabalho a fazer pelos estados ao nível da oferta e da procura e, no caso específico português, advogou por “investir massivamente” na ampliação do parque público de habitação, não só para a população carenciada, “mas também para a classe média”.
Do lado da procura, Pedro Nuno Santos diz que a UE tem de travar a subida dos preços face ao escasso poder dos salários.
“A habitação não é um mercado como os outros e a Europa precisa de olhar pela regulação da procura e do mercado, de combater a aquisição de casas para fins meramente especulativos, cessar o estímulo à especulação imobiliária”, concluiu, exortando ainda os socialistas a batalhar pelo regresso da esperança, do “trabalho com todos e para todos”, ao espaço europeu.
A reunião do Partido Socialista Europeu no Comité das Regiões decorreu este ano no Algarve, tendo como tema central a habitação, um problema transversal a toda a Europa.
Os parlamentares europeus defendem que a habitação social a preços acessíveis deve ser uma prioridade do novo mandato europeu.
O Comité das Regiões é um órgão consultivo composto por representantes eleitos de autoridades regionais e locais dos 27 países da União, constituindo um círculo de partilha de opiniões sobre a legislação comunitária com impacto direto nas regiões e nas cidades.