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Soares “dividiu” pelo caráter e pela coragem

Soares “dividiu” pelo caráter e pela coragem

O percurso de Mário Soares como resistente à ditadura do Estado Novo foi o tema da primeira conferência do ciclo organizado pelo Partido Socialista para evocar o legado e a memória do seu fundador e militante número um, que ontem teve lugar na sede nacional do partido, em Lisboa.
Soares “dividiu” pelo caráter e pela coragem

Esta primeira sessão, de um conjunto de quatro, contou com a abertura do presidente do PS, Carlos César, que salientou o contributo de Mário Soares “na luta contra a opressão” até ao 25 de Abril de 1974, na consolidação da democracia pluralista e, depois, na adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE).

O debate foi depois dinamizado pelos historiadores José Pacheco Pereira e Fernando Rosas, a par do professor universitário e fundador do PS, Mário Mesquita.

Pacheco Pereira destacou “o enorme pragmatismo” e a “grande objetividade” que marcaram a ação política de Soares, equiparando-o, nestas caraterísticas, aos antigos presidente francês François Mitterrand e chanceler germânico Willy Brandt.

Numa intervenção em que partilhou alguns episódios vividos com o antigo chefe de Estado e de Governo, Pacheco Pereira sublinhou, sobretudo, um princípio ético e moral, “hoje bem menos comum”, que moldou a sua estatura.

“Até ao fim da sua vida Mário Soares dividiu as pessoas pelo caráter e pela coragem”, disse, considerando, ainda, que o fundador do PS “nunca deixou de ser aquilo que tinha sido” no seu passado.

Fernando Rosas, por seu lado, sustentou a tese de que o fundador e primeiro líder do PS foi um político que combinou uma dupla tradição, a do republicanismo radical, reviralhista, e a das novas correntes marxistas/neorrealistas de meados do século XX.

Após uma breve referência ao período de militância de Soares no PCP entre 1943 e 1953, Fernando Rosas sustentou que uma das ideias centrais do futuro fundador do PS em 1973 passou a ser a de impedir “uma espécie de tutela” dos comunistas em relação à restante oposição ao Estado Novo.

“No início da década de 60, Mário Soares tornou-se o líder de facto da oposição não comunista. A ASP [Acção Socialista Portuguesa – 1964/73] tinha já uma rede nacional”, apontou.

O ciclo de conferências é organizado em quatro sessões temáticas, abrangendo diferentes visões e períodos da vida de Mário Soares. A próxima sessão, dedicada à “construção da democracia”, terá lugar no dia 11 de janeiro, com a intervenção de abertura a cargo da Secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, e os oradores convidados Diogo Freitas do Amaral, Manuel Alegre e Carlos Brito.